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O homem, esse complexo racionalizador

Protágoras não estava errado quando afirmou, cinco séculos antes de Cristo, que “o homem é a medida de todas as coisas” e é justamente por ser o homem o condutor das suas práticas e das práticas do mundo que os conceitos mudam ao sabor da sua vontade. A peça existencial será sempre um enredo escrito a lápis, sempre um rascunho jamais pronto para a edição final. Uma sorte para a humanidade (já pensaram se as besteiras feitas pela dupla Lula/Dilma não pudessem ser consertadas ?).

A cada minuto ou segundo da nossa vida somos um ser diferente, e diferente também é a visão que teremos do mundo que nos cerca, pois vemos a cada instante com olhar diferente a realidade. Fazemos sempre novas releituras do mundo, ajustando nossos conceitos e preconceitos a novas conjeturas. Aliás, a conjetura é a verdade possível ou, pelo menos, o instrumento mais hábil para a emissão de um juízo na ausência da verdade lógica.

Eu sempre gostei de escrever com caneta-tinteiro e usava sempre a tinta Parker Quink Permanente. Não gostava da tinta lavável. Mas no fundo, eu sabia que apenas a escrita podia ser permanente, mas os conceitos que eu expressava através dela seriam passageiros e mudariam com o tempo, como as nuvens. Por isso o drama do homem em escolher a rota em meio a tantas dúvidas. Ainda que não tivesse uma certeza plena, já desconfiava em minha adolescência, que a existência era uma sucessão de mudanças de conceitos, um vir-a-ser de perspectivas que se sucedem do nascimento à morte e deveriam ser escritos a lápis, pois nada é permanente na vida e isento à tentação de uma borracha.

Para J. P. Sartre, a maior expressão da filosofia existencialista, a angústia do homem reside justamente na obrigatoriedade e responsabilidade de escolher. Não basta apenas a obrigatoriedade da escolha que somos forçados a cada instante da nossa vida, o que nos atribula o espírito é a responsabilidade dessa escolha e a incerteza ao fazê-la.

Grande parte da humanidade passa pela vida sem meditar nisso, exercitando mecanicamente a existência. Para aquietarem o espírito em momentos de aflição utilizam-se da fé como fármaco espiritual para a angústia. Os irracionais, diferentemente dos humanos, não têm esse problema: comem, dormem e se multiplicam obedientes à sua irracionalidade e puro instinto de preservação da vida. Mas também não sonham os sonhos dos homens.

Talvez o mundo tenha sido feito mesmo apenas para o nosso uso e gozo, para desfrutarmos de seus prazeres e delícias nos momentos de trégua das angústias e dos sofrimentos físicos. Talvez a vida tenha sido feita apenas para ser vivida em toda a sua intensidade e não para ser analisada, dissecada e conceituada dentro de princípios metafísicos. Mas o medo da morte ou de alguma instância que possa existir depois da morte atribula o espírito do homem e o lança nessa busca por respostas. É claro que irá morrer com essa dúvida, mas a mesma dúvida lhe oferece o consolo: “E se…?”.

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