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A vontade de permanecer

As duas maiores preocupações do homem são o sofrimento e a morte. O sofrimento porque é cruel e a morte porque o homem sempre foi movido por uma curiosidade quase que obsessiva para saber se existe ou não uma vida imaterial depois da morte física. Não é de hoje que o homem procura essa resposta e, por isso mesmo, os livros ditos sagrados ou de inspiração divina apresentam as mais diversas respostas à questão que inquieta os homens. O Corão, os Vedas, a Bíblia, os livros espíritas ou mesmo as tradições orais dos povos iletrados, como os povos indígenas, procuram dar uma visão antecipada da vida após a morte e até um receituário comportamental para se desfrutar de delícias eternas. Alguns, como os espíritas, já entendem a necessidade (pelo menos para a maioria dos seres humanos) de trilhar mais de uma existência para se aperfeiçoar o espírito e atingir a perfeição, liberta dos carmas que nos afligem nesta vida terrena.

Fora as tradições orais dos povos não letrados, temos inúmeras linhas de pensamento religioso que apresentam respostas para a grande dúvida do “depois da morte”. O Confucionismo, o Hinduísmo, o Judaísmo, o Cristianismo, o Islamismo, o Taoísmo ou o Zoroastrismo são algumas delas que se ramificaram e deram origem a outras tantas por divergências de interpretações. Cada uma, embasada em seus livros inspirados, apontam o caminho para a salvação do homem e o desfrutar de uma vida eterna de paz e prazer espiritual, sem o sofrimento e a dureza existencial da vida terrena.

O homem, existencialmente adaptado às certezas sensíveis, apega-se a esta vida e amedronta-se com a incerteza sobre o que possa vir depois. Atribula a sua mente com questionamentos para os quais não tem respostas e não encontra ninguém capaz de respondê-las. Então, sofre com a morte de amigos e entes queridos imaginando a sua própria hora.

O mundo pode ser melhor se contribuirmos um pouco para que ele o seja, e mesmo com a incerteza do depois, devemos aproveitar melhor a vida; e vivendo mais intensamente os momentos da nossa existência, eles não serão tão curtos como parecem. O bom viver tem muitos segredos, mas todos eles resumem-se a simples posturas diante do mundo e daqueles que nos cercam. A vida trata muito melhor a gente quando se está de bem com ela. Até a vontade de permanecer não deve ser obsessiva, por melhor que seja a sua vida. Afinal, a curiosidade também é saudável quando também não é obsessiva.

Sempre existiu no mundo uma preocupação em culpar o homem por todos os males do mundo. Alguns até o julgam portador de um defeito de origem, como se fosse um defeito de fabricação, que o fadasse a todo um sofrimento existencial. Ora, a natureza colocou o homem em um mundo hostil, onde todos os outros animais lutam até à morte pela sobrevivência. Essas mesmas circunstâncias, que são também produto da interação do homem com o meio, tornam o homem mais duro e até certo ponto mais insensível. Culpá-lo por isso?

Também, em vez de barro, bem que o homem podia ter sido feito de aço, para suportar as dores e o cansaço dessa existência maluca.

Como diziam os romanos: “Carpe diem” enquanto a “indesejada das gentes” de Bandeira não estenda sobre nós a sua foice…

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