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O mistério atrás da porta

Um dos maiores medos do homem, desde o seu surgimento sobre a face da Terra, tem sido o medo do aniquilamento, o medo de, ao exalar o último suspiro, encerrar por completo a sua existência. Por isso, agarra-se à esperança de uma outra vida e, como aqui sempre provou o amargo pão e os sofrimentos físicos em sua luta pela sobrevivência, imagina uma outra vida de delícias e de gozo eterno.

Tem sido assim através dos séculos em todas as civilizações ou nas mais remotas tribos do planeta. Cada um com a sua esperança e sua visão de uma instância transcendental que lhe dê respostas e que compense o sofrimento terreno. As religiões ou seitas se multiplicaram através dos séculos e cada uma, a seu modo, procurando dar respostas à inquietação humana. Fosse o homem um cabrito montês, uma ave ou um animal irracional qualquer, não teria a sua mente atribulada por essas preocupações. Mas o ser racional procura respostas, ainda que não consiga encontrá-las suficientemente claras, sem a sombra assustadora da dúvida, para tranquilizar o seu espírito.

A ciência jamais foi suficiente para responder à inquietação humana. Então, o homem procura repousar o seu espírito na esfera transcendental, colocando suas esperanças nas mãos de um ser superior e munido de uma fé que lhe sustente essas esperanças. A fé, a crença em alguma coisa, tem sido o instrumento de sustentação do homem. Por isso, as linhas religiosas se multiplicaram e continuam se multiplicando por todos os cantos do planeta. Se levarmos em conta apenas as principais Igrejas, teríamos hoje centenas de denominações, distribuídas mais ou menos assim pelas diversas partes do mundo: o cristianismo, que no início do ano de 1900 possuía 550 milhões de adeptos, já contava com cerca de 2 bilhões de seguidores no início de 2012, divididos aproximadamente em mais de um bilhão de católicos, 480 milhões de seguidores de igrejas independentes, 380 milhões de protestantes, 90 milhões de anglicanos, fora outras linhas menores. Se compararmos apenas as duas maiores linhas espiritualistas hoje no mundo, existe uma projeção, baseada no crescimento acentuado do islamismo, afirmando que, no ano de 2050, nós teremos cerca de 2,9 bilhões de cristãos no mundo e, logo atrás, cerca de 2,7 bilhões de muçulmanos.

Mas não se esgotam por aí as estatísticas, pois ainda temos um significativo número de brâmanes, de budistas, de espíritas e outras linhas orientais menores. Outros, ateus, ficarão ao largo de qualquer fé religiosa, e outros, agnósticos, na impossibilidade de afirmar ou negar, manterão o seu juízo suspenso em termos de transcendência.

O certo é que a travessia da vida para a morte, esse momento solitário que se experimenta sozinho, continuará atribulando o homem e inquietando o seu espírito. Ninguém acompanha o homem nesse momento. Pouco importa que lhe segurem a mão na hora da partida, a mão que vai sozinha é a sua.

Para o ateu, o desconforto da desesperança; para o agnóstico, o incômodo da dúvida; para o espiritualista, a esperança da continuidade. Aí eu me lembro dos saudosos bate-papos filosóficos com o professor Wantuil Theodoro Ribeiro em minha casa, quando ele dizia: “Passando tudo a limpo, fé, é melhor ter do que não ter…”.

Nosso debate nunca terminava. Ele aceitava sempre apenas um cafezinho em cada pausa, para afiar a sua brilhante argumentação, e nós íamos desfiando argumentos e contra-argumentos para tentar decifrar o mistério que havia atrás da porta da existência. Ele já encontrou a sua resposta, eu, estou esperando a minha vez…

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