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O engodo está no ar

Francisco Laviola – 13/07/2018

Dizem os políticos que a política é dinâmica, e, portanto, não importa se os ferrenhos adversários de hoje sejam os eternos aliados de amanhã, desde que as alianças sejam eternas enquanto durem – parafraseando Vinícius de Moraes. Claro que o poeta falou de amor e não de um contumaz entrelaçamento de conchavos espúrios, cujo foco principal está sempre numa próxima eleição, seja ela qual for. Claro que não deveria ser assim, mas a constante inversão dos valores da representatividade política passa uma ideia distorcida de que os fins justificam os meios.

A falta de ética e o fisiologismo barato continuam dando as cartas na política brasileira, deixando a sociedade cada vez mais descrente nas principais instituições que sustentam o estado democrático de direito. Vale tudo em véspera de eleição. A doença infectocontagiosa da imoralidade está em todos os  cantos dos poderes da República. A contaminação é geral.

O tumulto que se criou no domingo passado, por exemplo, em torno do ex-presidente Lula – o preso que foi solto e como não saiu da cadeia, ficou preso – diria Dilma Rousseff, é mais uma queda de braço com a Justiça, obra sistematicamente premeditada, arquitetada e bancada pelas lideranças de esquerda, especialmente a militância petista, com o intuito de tumultuar, ao máximo que eles puderem, as eleições que acontecerão em outubro.

O imbróglio é tão grande, que até a Justiça, que tem o dever de dar segurança jurídica ao processo democrático, vai sendo levada pelo arrastão de impropriedades e se mostrando inoperante, politizada, e principalmente, caracterizada por decisões monocráticas suspeitas de compadrio. A decisão de um desembargador levada a efeito, durante o seu plantão de fim de semana, seria absolutamente normal se não tivesse por traz dela uma intenção sub-reptícia de burlar a própria instituição a qual ele representa. Daria até para entender a decisão como uma interpretação diferente da legislação, se o desembargador Rogério Favreto, signatário do alvará de soltura de Lula, antes de ser alçado ao cargo atual, não tivesse ocupado quatro cargos diferentes no governo do ex-presidente, sendo ainda procurador-geral do município de Porto Alegre, quando o petista Tasso Genro era prefeito da capital gaúcha. Ele tem, portanto, um vasto histórico de ex-militante petista. E colocar Lula fora da cadeia, ainda que por um dia que fosse, depois de ter sido condenado em segunda instância por órgão colegiado, obrigando este mesmo órgão a revogar uma decisão sua, seria um prato cheio para fortalecer ainda mais a tese de que Lula é um eterno perseguido do juiz Moro e da Corte que confirmou a sua condenação. O desembargador agiu com os olhos voltados para o passado, não para o futuro. Agiu de forma politizada, não como magistrado. É essa banda podre dos três Poderes que teremos que expurgar em breve.

Em outubro teremos eleições para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Mais uma vez os brasileiros terão a oportunidade de expulsar da política tudo aquilo que não deu certo até agora. Mas teremos que ter muito cuidado nas escolhas, porque o engodo ainda vai continuar no ar.

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