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Da comunidade para a comunidade: como a juventude mineira tem trabalhado do antiracismo à educação


A juventude de Rosário da Limeira, Muriaé, Miraí e São Sebastião da Vargem Alegre desenvolve e fortalece sua consciência cidadã ao articular projetos de educação, cultura e diversidade nas quatro cidades mineiras
Ser prefeito ou presidente era uma das brincadeiras favoritas de Felipe Briguente na infância. Hoje com 19 anos, o jovem pode dar vazão à sua paixão pela política por meio do Programa Cidadania. O programa existe desde 2021 em quatro cidades de Minas Gerais e estimula o exercício da cidadania ativa, para que os jovens desenvolvam suas capacidades de liderança e de articulação e gerem impacto em suas comunidades.
Felipe participa do programa na cidade onde reside, Rosário da Limeira. O município, localizado no interior do estado, tem pouco menos de cinco mil habitantes e quase metade do número (45,94%) está concentrado na área rural. Ele conheceu o programa por meio de uma notícia no Whatsapp, em 2021, e logo viu a oportunidade de realizar um desejo antigo. “Sempre tive comigo a ideia de criar uma coisa que levasse educação política para crianças e jovens, para que se tornem mais comprometidos com a democracia e cidadania”, relembra.
Fazendo do seu sonho uma realidade, o estudante conseguiu articular dois projetos, em 2021 e em 2022, junto de sua equipe composta por Maria Luiza Rodrigues, Ian de Souza, Gleidson Barbosa e Vitória Matos.
Em 2021, eles desenvolveram o Agentes da Nova Política. “Nova porque, para termos uma nova política, precisamos de novas pessoas. Mas não é só colocá-las, é [preciso] formá-las”, explica o estudante. O projeto consiste na educação política para crianças, jovens e adolescentes. Como à época a pandemia de coronavírus ainda restringia diversas atividades, a solução foi levar os alunos e alunas para conhecer a prefeitura e a câmara municipal de Rosário da Limeira, além de fazer uma sessão simulada para todos verem como funciona o poder legislativo e os cargos de vereança.
A ação dialoga diretamente com os objetivos do Programa Cidadania, que é desenvolvido ao longo de três anos, realizado pelo Instituto Votorantim em parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio e executado pelo Instituto de Governo Aberto e Instituto Cidade Democrática.
Valorizar e expandir a cultura local
Em Muriaé, o tema escolhido em 2021 foi a cultura. Mais especificamente, sua descentralização na cidade que tem pouco mais de 100 mil habitantes. Nathan Valentim, participante , explica que o primeiro passo do grupo foi fazer um mapeamento da região quanto aos aspectos culturais oferecidos.
“Percebemos que a cultura ofertada pelo município geralmente adota como base atender as pessoas que estão no centro. Então, fazendo uma crítica construtiva, percebemos que quem devia ser contemplado, como pessoas de periferia, não eram”, explica. A solução encontrada pelo grupo foi realizar, em bairros periféricos de Muriaé, um dia de oficinas com aulas de redação, dança, canto e atividades pedagógicas para as crianças.
Naquele ano, diversidade e raça foram as escolhas da equipe composta por Nathan e Hyara Rodrigues, Luan Fonseca, Yuri Campos, Diego Bittencourt, Ana Carolinni Sousa, Roberta Rodrigues, Mariana Falção, Luiza Castro, Francielle Dias, Vicente Ribeiro, Gláucia Craveri, Juliana Maria Coelho, Maria Fernanda Veiga, Natalia Souza.
Eles perceberam a necessidade de promover uma intervenção pautada no tema do racismo e da diversidade cultural e sexual. O projeto, que ofereceu oficinas com o tema de diversidade e foi aplicado na sede da Casa Nandy, uma organização parceira da Rede Cidadania. Essa interlocução é comum durante o programa. Atores locais, como ONGs, poder público, empresas e escolas são envolvidos desde o início na articulação das atividades, e igualmente impactadas por seus resultados.
Wesley Ferreira enxergava Muriaé como uma cidade branca e cinza, “mas agora tem cor, lugares estão sendo pintados e está dando um brilho”, diz. Ele vê o Programa Cidadania como uma forma “de engajar os jovens e trazê-los como protagonistas além de promover a conscientização política e ensino dos jovens como indivíduos, não somente militantes, mas pensantes e críticos em relação ao atual cenário de pobreza, miséria e falta de alguns tipos de cultura que não chegam nas periferias e subúrbios”, completa Nathan.
Há 30 quilômetros de Muriaé, está Miraí, cidade que rendeu o projeto “Meu Pequeno Miraí”. Por meio do programa, Agatta Silva e sua equipe Bárbara Helena, Juliana Resende e Haylana Horácio, falam sobre a história cultural do município e referenciam seus grandes escritores. Os resultados foram oficinas sobre a cultura e história do município, que contemplaram mais de 500 estudantes das escolas municipais. O marco de encerramento foi um sarau de poesia, que rendeu até uma parceria com a Academia Miraiense de Letras.
É o terceiro ano que Agatta participa do Programa Cidadania. Em 2021, “Desenvolvemos um projeto de lei, enviamos um ofício para a prefeitura informando sobre os benefícios da castração dos animais de rua, principalmente fêmeas, e conseguimos a castração gratuita das cadelas de rua, para que diminuísse o número de animais de rua em Miraí”, explica a estudante.
Meio ambiente em pauta e prática

Miraí faz divisa com São Sebastião da Vargem Alegre. Em 2021, as duas cidades sediaram um projeto sobre a coleta de lixo na zona rural – algo que não acontecia nos municípios. Ana Clara Neves e sua equipe Israel Gomes, Maria Luiza Pinheiro, Maria Júlia Varizi, Samira Aparecida, Thaís Vitória Toledo e Vinícius Afonso propuseram, então, a solução: a coleta seletiva. “Fomos atrás das autoridades, e a coleta em São Sebastião está em andamento para ser executada até o final de 2023”, explica ela.
A produção de resíduos sólidos é um dos maiores desafios do Brasil. O país produz uma média de 82,5 milhões de toneladas anualmente, e a maioria do montante vai parar em aterros sanitários ou permanece a céu aberto. Na reciclagem, o número é ainda mais baixo: apenas 2,1% do lixo coletado é reciclado.
Pensando nisso, a equipe de Ana decidiu continuar com o tema do meio ambiente e lixo em 2022. Dessa vez, a proposta voltou-se para a conscientização. Aprendemos sobre a separação de lixo para falar para as pessoas. Colocamos a mão na massa [com os catadores], separamos o lixo. Vimos que as pessoas ainda destinam o lixo errado, ou que havia lixo que poderia ser reciclado, mas estava sujo”, explica a participante.
Os resultados foram dois dias de ações na escola municipal de São Sebastião, trabalhando a questão com crianças do primeiro ao quinto ano, por meio de uma gincana que preparou 100 estudantes para destinar o lixo corretamente. Ana aponta que para a separação em casa ser efetiva, é necessária à coleta seletiva, mas isso não exime os moradores de realizarem sua parte. “Fizemos dinâmicas, rodas de conversa, falamos como o lixo é um problema de todos e ensinamos a separar o resíduo seco, molhado e orgânico”, acrescenta Ana, que ainda pode visitar o CBA e a Reserva de Proteção do Patrimônio Natural (RPPN) de São Sebastião.
A participante, que descobriu o Programa Cidadania por meio das mídias sociais, compartilha que participar do programa mudou sua vida e sua percepção política. “Você sai do projeto mais aberto, e aprende muito, de uma forma satisfatória. É aprender na prática”, avalia ela.

Próximos passos
No final de 2022, os jovens de Rosário da Limeira, Muriaé, Miraí e São Sebastião da Vargem Alegre se reuniram em um encerramento, que, na verdade, é um dia para reconhecer o envolvimento de todos durante os meses de Agentes da Cidadania. “O mínimo de ação que eles tiveram contribui para um projeto muito maior de exercício da cidade.
Em 2023, as atividades continuam. Será a terceira e última fase anual do Programa Cidadania nas quatro cidades. O objetivo é institucionalizar espaços de participação junto ao poder público municipal para que os jovens possam integrá-los e influenciar as políticas públicas locais. Seja por meio de conselhos, fóruns, parlamentos jovens ou qualquer iniciativa institucional que permita a participação permanente da juventude local, o propósito é deixar um legado nas cidades.

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