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COPACABANA, A PRINCESINHA ULTRAJADA

Adellunar Marge

Copacabana sempre foi um ícone do Rio de Janeiro e do mundo. As areias brancas e finíssimas de sua praia inspiraram poetas de todos os tempos, mas talvez nenhum deles tenha descrito com mais perfeição e sentimento as belezas daquela praia do que João de Barro, o imortal Braguinha, em seu famoso samba. “…Copacabana, princesinha do mar, pela manhã tu és a vida a cantar…Copacabana, o mar, eterno cantor, ao te beijar ficou perdido de amor…”.

A palavra “Copacabana” é exótica em nossa língua. Origina-se da língua Quechua e se refere a uma península ao sul do lago Titicaca, entre o Peru e a Bolívia. Seu nome, na língua indígena original “Kupa-Kawana”, significava “olhando o lago” ou “mirando o horizonte azul”.

Por volta do ano de 1600, o índio Tito Yupanki, talhou uma imagem da Virgem Maria que, exposta naquela península, atraía milhares de visitantes devotos. Quando a nossa Copacabana era apenas um areal habitado por poucos pescadores e era ainda chamada de Sacopenapã, mercadores de prata vindos da Bolívia trouxeram uma cópia da Virgem de Copacabana que foi colocada em uma pequena capela onde se ergue hoje o Forte de Copacabana. A capela não existe mais, mas o nome ficou imortalizado na famosa praia, estendendo o seu nome ao próprio bairro.

Copacabana passou a ser referência na Cidade Maravilhosa. O Hotel que leva seu nome, a beleza da sua orla marítima e suas noites de boemia, embalaram os sonhos de todos os que ali moravam ou apenas transitavam, vindos das mais distantes regiões do Brasil ou do mundo.

Mas era um local isento das violências de hoje. Os transgressores mais sérios eram os antigos “batedores de carteira”, capazes de cometer o ilícito sem praticar violência física contra a vítima. Os bares, “boîtes” e “inferninhos”, pois assim eram chamados, atendiam aos mais variados gostos e uma ou outra desavença pessoal ficava por conta de um ciúme passageiro que sempre acabava com o romper da manhã e um novo amor que se iniciava, como no famoso samba cantado por Dick Farney, “Sábado em Copacabana”.

Mas o nosso país, como o mundo, mudou e a Cidade Maravilhosa foi tragada pela violência das gangues, dos arrastões que infestam as suas ruas e suas praias e Copacabana, a Princesinha do Mar, foi ultrajada pela violência. Resta ainda, intacta, somente na memória de quem a conheceu em seus tempos áureos.

Tive a sorte de desfrutar muito de um Rio não violento, não só nos passeios com meus pais nas décadas de 40 e 50, como no período em que lá vivi, a partir do início da década de 1960. Quando o Presidente Juscelino transferiu a capital federal para Brasília, o Rio se transformou em Estado da Guanabara e, apesar de perder o status de Capital do país, a Cidade Maravilhosa respondeu à altura. O aterro da região litorânea que vai do Calabouço até Botafogo foi iniciado no início do séc.XX, principalmente com o desmonte do Morro do Castelo, mas foi o Governador Carlos Lacerda quem empreendeu o conjunto mais importante das obras com a construção do Aterro do Flamengo chamado “Parque Brigadeiro Eduardo Gomes”. Tive o prazer e o privilégio de passar parte das minhas férias escolares acompanhando o meu irmão que dirigia um caminhão basculante nosso, transportando as terras do desaterro do Morro de Santo Antônio, no Largo da Carioca, para aterrar a orla marítima na construção do famoso “Aterro do Flamengo”, embelezado pelo paisagista Burle Marx. Copacabana, a Princesinha do Mar não ficou de fora e teve também sua orla aterrada para a duplicação da sua famosa Avenida Atlântica, executada de 1969 a 1971, já sob o governo de Negrão de Lima. Roberto Burle Marx criou as calçadas com pavimentações onduladas, feitas com pedras portuguesas brancas e pretas, para simbolizar as principais etnias da nossa formação. Do aterro da orla de Copacabana não participamos com o nosso caminhão e nessa época eu já morava há alguns anos naquela maravilhosa cidade. Daquela Copacabana pacífica, socialmente agitada e divertida, restam apenas os fragmentos na memória com lembranças dos namoros no Cine Ryan, na Avenida Atlântica; do agitado Tip-Top na Constante Ramos ou das Galerias Alaska e Menescal. Tempos bons da minha juventude…!

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