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A transcendência do pão

O pão é um dos alimentos mais antigos produzidos pelo homem. Surgiu aproximadamente há 12 mil anos com o cultivo do trigo na Mesopotâmia, uma região entre os rios Tigre e Eufrates, onde hoje se situa o Iraque.

O trigo, talvez o primeiro alimento cultivado pelo homem, era, em seu início, mastigado in natura. Gradativamente, o seu consumo foi aperfeiçoado com a adição de mel, azeite doce, suco de uva, tâmaras esmagadas e até carne misturada à farinha obtida com a trituração do trigo. Com o tempo, o homem passou a misturar a farinha do trigo com água e fermento que, assado sobre pedras quentes, daria origem ao pão. Os egípcios foram os primeiros a utilizarem fornos de barro para assarem o pão.

Durante séculos o pão passou a ser o alimento fundamental na dieta humana e o seu nome passou a se identificar com alimento, de uma forma geral e sua importância chegou a tal ponto que o pão era utilizado até em cerimônias religiosas como oferenda aos deuses, sacralizando-se, assim, o seu significado.

Os essênios, que habitavam a região desértica da Palestina e nos legaram preciosos manuscritos, descobertos em 1947 nas cavernas de Qumram, já usavam o pão em suas cerimônias. Mais tarde, Cristo usaria também a simbologia do pão, aliado ao vinho, na Eucaristia. Quando pregava à multidão às margens do Lago Tiberíades, foi o pão o elemento principal para a taumaturgia da multiplicação. Cinco pães e dois peixes para saciar a fome de aproximadamente 5 mil homens… além de mulheres e crianças.

A simbologia do pão ficou de tal forma sacralizada, que as mães nos ensinavam, quando criança, que jamais deveríamos pisar em um pedaço de pão. Devíamos recolhê-lo e jogarmos no cesto de lixo, jamais pisá-lo. Isso seria falta de respeito. Um fato interessante: quando Cristo multiplicou os pães e alimentou a multidão, dividida em grupos de 50 pessoas, também teve o cuidado de mandar que os 12 apóstolos recolhessem cerimoniosamente as “sobras”, em 12 cestos. Nem desperdício, nem desrespeito com as sobras do precioso alimento.

A história é plena de utilização do pão como simbologia. Os romanos explicavam o domínio demagógico e pacífico da plebe com a imagem: “Panes et circenses”, pão e circo. Ou seja, com alimento e diversão era fácil dominar multidões. Quando, às vésperas da Revolução Francesa, disseram à Maria Antonieta que o povo não tinha “pão”, ela teria dito: que comam brioches…! E ainda hoje, quando um lar é atribulado por dificuldades econômicas, recorre-se ao antigo ditado: “Casa onde falta pão, todos brigam e ninguém tem razão”.

O alimento, simbolizado através dos séculos pelo pão, nutre o corpo e aplaca as aflições da alma. Por isso o caráter transcendente desse composto de trigo, água, sal e fermento que acompanha o homem há milhares de anos alimentando-lhe o estômago e a alma.

Ainda hoje, com décadas de estrada existencial, jamais piso em um pedaço de pão. Talvez pela memória dos ensinamentos da infância, mas, sobretudo, pelo respeito à transcendência desse alimento.

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