PRINCÍPIOS TRAÍDOS

Adellunar Marge

As primeiras Universidades de que se têm notícia tiveram a sua origem por volta do séc. XII. A Universidade de Bolonha, na Itália, no ano de 1.150; a de Paris (Sorbonne) poucos anos depois e algumas outras espalhadas pela Europa, datando da mesma época. É claro que Escolas para o ensino de ciências do mundo e dos homens, como a Filosofia, já existiam na antiguidade clássica, como a Academia, dirigida por Platão e o Liceu, dirigido por Aristóteles, na Grécia do séc. IV a.C. Essas últimas eram Escolas de “Livres Pensadores”, que tentavam explicar o mundo, independente de convicções religiosas.

Mas todas elas, de uma maneira ou de outra, aliavam sempre ao ensino científico, uma preocupação com os princípios éticos. E ética no sentido pleno da palavra que é uma objetiva reflexão sobre a Moral. Esses princípios, aliados ao conhecimento da ciência, visavam formar pessoas para repassarem os conhecimentos recebidos e construírem outros na dinâmica ininterrupta da evolução humana.

No Brasil, o primeiro centro de estudo superior foi a Escola de Cirurgia de Bahia, inaugurada em 1808, com a chegada de D. João VI, que fugia da ocupação de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte. Depois, tivemos a instalação dos Cursos de Direito em Olinda, no Estado de Pernambuco e em São Paulo, ambas em 1927. Universidade mesmo, com vários cursos, a primeira no Brasil foi a do Rio de Janeiro, inaugurada em 1920.

As Universidades continuaram sendo no decorrer dos séculos, conceituados centros de excelência nos campos da instrução e da formação. Evoluíram muito através dos anos, ao deixarem de atender apenas a uma restrita camada da população, dotada de recursos econômicos, estendendo suas ações e abrindo suas portas a amplas camadas populacionais, através de bolsas ou ensino gratuito.

Mas as Universidades, embora elitistas no passado, sempre guardaram um compromisso com a formação de cidadãos, principalmente com o exemplo do seu corpo docente e da sua direção.

Agora, além da gigantesca corrupção que assola elevado número de políticos e mega empresários em nosso país, testemunhamos, conforme matéria da Folha de São Paulo do último dia 10, as denúncias de corrupção e desvios de recursos em Universidades brasileiras. Justamente centros de ensino e formação dos quais se esperava uma natural lisura administrativa.

Na Universidade Federal de Minas Gerais, Reitor, Vice-reitora e outros funcionários, foram alvos de condução coercitiva, pelo suposto desvio de R$ 4 milhões na construção do “Memorial da Anistia Política do Brasil”, erguido em seu Campus;  na Universidade Federal de Juiz de Fora, cinco pessoas presas, incluindo o ex-Reitor, acusados de fraude e superfaturamento nas obras do “Hospital Universitário”;  na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Cornélio Procópio, 20 pessoas presas e soltas posteriormente por envolvimento em fraudes em contratos e licitações que somam R$ 5,7 milhões; na Universidade Federal de Santa Catarina, operação policial prendeu seis professores e o Reitor numa investigação de desvios de verba nas bolsas de estudo concedidas pela CAPES para Ensino à Distância. No caso da UFSC, lamentavelmente o Reitor acusado cometeu suicídio em outubro de 2017.

Esses episódios todos, que retratam o grau de corrupção em nosso país, têm um significado maior por ocorrerem em instituições de ensino, de cujos dirigentes e professores a população esperava o compromisso com a integridade moral. Mas, ao contrário, esses centros de saber, com atitudes dessa natureza, desvirtuam suas funções, maculam a sua imagem diante da opinião pública e traem os princípios que deveriam norteá-los.

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