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O RIO E O HOMEM

Adellunar Marge

É muito difícil passar pelas ruas que margeiam o rio Muriaé, olhar a quantidade de lixo jogada às suas margens e não se sensibilizar. Principalmente quando, já dotado de uma certa largueza de existência, temos na memória o antigo rio que banhava os quintais das residências e que tinham como poluição, se é que se podia chamar aquilo de poluição, restos de frutos de pomares caseiros levados pelas enchentes periódicas. Tempos em que nadar em nosso rio era uma prática comum dos jovens da época.

Os rios, todos eles e em todos os lugares, sempre tiveram uma relação muito grande com os homens. Desde os tempos em que os homens deixaram de ser nômades, fixaram-se às suas margens estabelecendo seus povoados e servindo-se da sua água para saciar a sua sede e do seu leito, quando possível, como via de comunicação entre outros povoados. É difícil uma cidade que não seja cortada e banhada por um rio. O Sena, na França; o Tibre, na Itália; o Mississipi, nos EUA; o São Francisco, no Brasil ou o Muriaé, em nossa cidade, têm a mesma importância para as cidades que deram origem.

Mas o homem não retribui os benefícios que o rio lhe presta e ainda que servindo-se dele, mata-o a cada dia com a irresponsabilidade dos seus atos. Mas os rios continuam ali, satisfazendo as necessidades do homem e sofrendo as suas agressões, vendo morrer a sua fauna e a sua beleza.

Mas acredito que em poucos lugares um rio possa ser tão maltratado, tão agredido como em nossa cidade. Em toda a sua extensão urbana, o rio Muriaé é hoje um imenso depósito de lixo flutuante, composto de plásticos das mais diversas espécies, garrafas pet, sacolas, corantes e tudo o que se possa imaginar de descartes da população. De uma extensão à outra da cidade o outrora rio Muriaé de águas cristalinas e memoráveis piaus, bagres e cascudos; navegado por canoeiros famosos, hoje é um lixão fluvial.

É claro que o poder público tem uma parcela considerável de culpa nesse processo de deterioração do rio Muriaé. Faltam ações de limpeza diária das margens do rio, falta uma política de conscientização ostensiva, faltam sim, muitas ações por parte do pode público. Mas seria uma injustiça debitar a ele todos os problemas de poluição do nosso rio Muriaé. Não há administração pública municipal que dê conta de um comportamento como o da nossa população. Não de toda a população, é claro, mas de uma parcela considerável que é responsável pelo lixo jogado diariamente nas margens do rio.

O que leva uma pessoa a jogar sacolas de lixo no rio, se não uma falta de formação ou, mais precisamente, de cidadania, de gentileza urbana e de respeito ao semelhante que vive na mesma comunidade. Como é difícil mudar comportamentos…!

Mas se mudar comportamentos é difícil, uma solução futurista, embora de custo elevadíssimo, seria blindar os rios com lajes de concreto em toda a sua extensão urbana, transformando todo o seu trajeto em amplas avenidas e praças. Seria um modo de defendê-lo dos homens, seus principais agressores. Mas é claro que isso é uma utopia, pois além da escassez dos recursos públicos, somos um país em que grande parte desses recursos são canalizados para a corrupção.

Talvez algumas câmeras em pontos estratégicos pudessem flagrar os “jogadores de lixo” e, identificando-os, responsabilizá-los por crime ambiental. Fácil ? É claro que não, mas poderia atenuar o problema. Pois conscientizar aquele que não possui consciência cidadã eu penso ser muito mais difícil.

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