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Peculiaridades do jogo do impeachment

Parecia uma final de Copa do Mundo. O povo nas ruas esbanjava confiança. De um lado, os brasileiros que exigem a saída da presidenta, se aglomeravam nas principais avenidas das cidades do país portando suas bandeiras e ostentando as cores verde e amarelo em suas camisetas. Do outro, os fieis defensores da atual política do governo lulopetista, tentando reunir forças para barrar o início do processo de impeachment. Pelo menos, nesse primeiro embate, no que concerne ao povo, foi um jogo jogado com lealdade. Não houve acirramento das torcidas.  Pode ser que a elevação do grau de curiosidade e de tensão não tenha deixado espaços para confrontos. Porém, o fato evidenciado é que nas ruas imperou a democracia, sem brigas e sem tumultos, demonstrando que o povo brasileiro pode estar amadurecendo.

Já em casa, a maioria dos brasileiros – desde idosos até crianças – se acotovelava nos sofás, curiosos para ver como seria o “jogo” na Câmara. Penso que depois que inventaram os smartphones, foi a primeira vez que se conseguiu reunir famílias inteiras em torno de uma televisão com o mesmo objetivo. É claro que as mensagens, vídeos e áudios bem humorados transmitidos pelo WhatsApp, com os seus sons peculiares, não pararam. Mas o assunto predominante era o mesmo, ou seja, ver o começo do “jogo” do impeachment.

Enquanto a plateia acompanhava pela TV o desenrolar dos acontecimentos, no “campo”, a batalha era intensa. O “juiz” Cunha, sem nenhuma moral para estar ali comandando o jogo, era alvo de xingamentos como ladrão, sacripanta, canalha e tudo mais que o criativo repertório dos artistas do espetáculo permitia. Impassível, tranquilo e com mais de cinco milhões de dólares em suas contas na Suíça, o “juiz” apenas dava a voz de comando: “O seu voto, deputado”. Enquanto ouvia mais um xingamento, só repetia: “O seu voto, deputado”.

Mas tiveram outras peculiaridades que me chamaram a atenção. Com os olhos fixos no telão, e calculadoras nas mãos, muita gente fazia as contas que os números projetavam. Cada gol, ou melhor, cada voto contrário, era preciso de três a favor para recuperar. Foi tenso. Só houve um pouco de folga quando o Sudeste ampliou o placar, devido à participação das nossas Minas Gerais, sempre fazendo a História. Porém, quando chegou a vez da forte região Nordeste, reforçada pelo estado da Bahia, os olhos preocupados da plateia se voltaram novamente para o placar. A “Terra Prometida”, cujo “Manah” sempre foi representado pelo “Bolsa Família”, “Mais Médicos”, “Luz para Todos”, “Pátria Educadora” e “Transposição do Rio São Francisco”,  voltou a dar o ar da graça. E só não virou o jogo, porque o “Moisés”, neste caso, traiu o seu povo, que já não aguenta mais viver sem saúde, sem educação, sem emprego, sem as moradias prometidas, e o dinheiro que lhes mandam está sendo corroído pela inflação. Ao invés de socorrê-los, abandonou
-os à própria sorte e foi descansar em Atibaia. Quem conhece bem essa história é o Sergio Moro.

Mas a batalha em campo continuou com as suas peculiaridades. Teve jogador profetizando a condenação da Rede Globo; teve quem homenageasse um famoso torturador da época da Ditadura Militar; muitos outros correram até as câmeras para mandar abraços e beijinhos para a família; tiveram os chamados “papagaios de pirata”, figurantes notórios, que se postaram diante das câmeras para ter o seu tempo de fama.

Portanto, neste primeiro jogo teve de tudo e o placar foi 367 a favor, 137 contra, com sete abstenções e duas faltas, sendo que o segundo tempo do jogo será realizado em outro campo, ou seja, no estádio denominado de Senado Federal.

Voltando à realidade política, sem metáforas, o deputado Paulo Maluf (PP-SP), que era um dos aliados do governo, chegando até tirar fotografias abraçado com o Lula, mais uma vez traiu e votou a favor do impeachment, tendo justificado o seu voto: “Sou contra esse tipo de política… O governo acha que ganha votos oferecendo cargos. Está errado”.

Segundo as más línguas, desta vez, Maluf não quis aparecer em fotos com o ex-presidente. É que ele, Maluf, está com medo de manchar a sua imagem. Será que faz sentido?

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