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PALAVRAS SÃO PALAVRAS…

Adellunar Marge

A palavra tem um valor e um significado inestimáveis na vida e na história do ser humano. É capaz de elevar as pessoas, como também é capaz de degradá-las. Quando o homem conquistou o dom da fala deu o seu primeiro grande passo para exercer a sua hegemonia entre todos os seres, ao poder comunicar o seu pensamento e ampliar o seu processo de socialização. Quando inventou a escrita, perenizou aquilo que pensava e iniciou o processo de acumulação de conhecimento.

Mas nem sempre a palavra, exprimindo o pensamento de um indivíduo, expressa a sinceridade das suas intenções. Os demagogos a usam (como o próprio nome diz) para “conduzir o povo” e quase sempre para o pior dos caminhos. Os pregadores a usam para guiar os espíritos, os atores, para exercitarem no expectador o processo da catarse, levando-o a sentir as emoções de dor e de contentamento, de lágrimas e de risos, nas tragédias e nas comédias.

Um veículo atual onde a palavra é usada com os mais diversos e às vezes enganosos sentidos é a Internet, através das redes sociais. A internet aceita tudo, assim como o papel, mas em proporções imensamente maiores. Diante do teclado, o internauta exercita a sua imaginação e repassa conceitos, teorias, defende posições pessoais e coloca na boca das mais diversas pessoas, palavras e pensamentos que, na maioria das vezes, não são delas. Mas a internet, como boa serviçal, aceita tudo.

Dizia um amigo meu, há muitos anos e seguindo um ditado antigo, que “palavras são palavras…nada mais do que palavras”.  O que vale mesmo é a realidade, aquilo que o homem experimenta. A não ser, é claro, no universo da poesia, pois ali não se tem e nem é conveniente que se tenha, compromisso com a verdade. A poesia é o terreno dos sonhos, da fantasia. Certa vez, em uma entrevista, perguntaram ao escritor Ariano Suassuna se a Poesia tinha uma estreita ligação com a Filosofia. Suassuna respondeu de imediato: “é claro que não, a Filosofia busca chegar à verdade e a poesia se baseia na mentira, na fantasia”. De fato, na poesia eu posso falar de um cavalo alado voando levemente pelo céu, que não tem problema nenhum. As palavras se prestam a tudo, até ao que não presta.

Quantas vezes já lemos em livros ou na Internet, textos falando da necessidade de o homem tomar como exemplo a Águia ou o Condor andino, elogiando-se a majestade e a pujança dessas aves que voam nas alturas e na imensidão do céu, ao contrário de homens que rastejam na mediocridade. Mas palavras são às vezes apenas palavras e nada mais do que palavras, como dizia o meu velho amigo.

O Condor dos Andes ou a Águia, voam sim na imensidão e nas alturas do céu com uma imponência e uma majestade sem iguais, mas o que não se pode esquecer  é que essas aves, planando nas alturas em seu possante vôo, de repente, em um ímpeto da sua natureza, deixam a beleza das alturas e mergulham em um alucinante vôo até o mais profundo e obscuro vale para mergulhar o seu bico na mais putrefata carniça, atendendo ao chamamento atávico da sua natureza.

Essas aves não têm mesmo aquela majestade que lhe debitamos. As palavras, inventadas pelos homens é que dão um colorido especial à história. Afinal…palavras são palavras e nada mais do que palavras…

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