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O homem e as cidades smarts do futuro

Quando Guimarães Rosa descreveu Diadorim, em “Grande Sertão: Veredas”, falou do seu “olhar esmarte”, num aportuguesamento da palavra inglesa “smart”.

Smart tem inúmeros significados na língua inglesa. Pode significar: dor aguda, violenta, ou como verbo: sofrer, arder, ou ainda como adjetivo: agudo, severo, forte, ardente ou até mesmo ativo e esperto e outros significados mais. O olhar de Diadorim devia ser enigmático na concepção do grande romancista mineiro.

Smart hoje já assumiu um significado bem objetivado na modernidade das comunicações com todo o impacto social que as tecnologias e transformações vão proporcionar às cidades, inclusive brasileiras.

Hoje temos televisões smarts, que nos abrem um verdadeiro universo em nossa sala, oferecendo quase que ilimitados meios de entretenimentos. Para os adultos mais próximos da chamada “melhor idade”, a coisa tem até se complicado. São tantos recursos e tanta tecnologia que muitos adultos já se enrolam com ela. As crianças não. É que nós, adultos, somos imigrantes nessa tecnologia e as crianças são nativas.

Mas smart é muito mais que uma televisão. Nas cidades smarts que se aproximam, os veículos serão autônomos e não precisarão de motoristas. O ocupante programa o destino do veículo, como em um GPS, e o carro faz o percurso sem a intervenção do condutor. Através de radares, o carro identifica obstáculos a dois campos de futebol de distância e se desvia com a precisão de um bom motorista.  As lixeiras urbanas avisarão automaticamente quando estiverem cheias e os bueiros quando estiverem entupidos. A iluminação pública aumentará ou diminuirá de intensidade de acordo com a obscuridade local e a iluminação pública deverá ser inevitavelmente toda de LED, como já está sendo em grandes cidades do Brasil e do mundo. As soluções serão as PPP – Parcerias Público Privadas devido aos grandes investimentos necessários.  As pessoas flagradas em um delito em via pública por câmeras ultra sofisticadas, terão analisadas suas digitais e identificadas no momento pelos órgãos de segurança.

Não sei se a tecnologia poderá resolver o problema maior do homem que está justamente dentro dele, nas relações de afetividade no ambiente social. Em uma reportagem sobre o carro do futuro o diretor da KPMG, Ricardo Bacellar, afirma que os carros já estão hoje no nível I ou II de automação e espera-se que até 2030 os carros totalmente automatizados já estejam nas ruas. Caminhamos a passos largos para uma disruptura crescente e globalizadora. O carro autônomo vai provocar várias disrupções. Uma delas será a organização do trânsito, pois “os carros conectados organizam a forma de distribuição do trânsito, organizando o seu fluxo e minimizando engarrafamentos”.

O problema é quando ele afirma que “o tempo das pessoas é um capital a ser aproveitado”. Segundo o analista, com o carro totalmente automatizado, o ocupante terá a oportunidade de aproveitar o tempo em que iria dirigir o veículo para organizar planilhas de serviço, distribuir tarefas pelo Iphone, assistir mini-palestras de motivação, etc. Eu penso que a vida é muito mais do que isso. A tecnologia deverá ser uma ferramenta para promover o bem-estar do homem, poupando-o das tarefas árduas e não para aumentar-lhe o tempo para mais e mais trabalho para ganhar mais e mais dinheiro. Coisa parecida são as palestras de motivação patrocinadas por empresas, principalmente bancos, para que os empregados, que eles chamam de “colaboradores”, batam metas e mais metas. Quantas metas baterem, mais metas e cada vez mais altas aparecerão, até que um dia, exauridos da sua capacidade de baterem mais metas, são demitidos. Isso também eu chamaria de disrupção nas relações interpessoais entre patrão e “colaborador”. Mais ainda, entre o homem e a sua verdadeira essência.

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