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As mensagens dos WhatsApps

Antes da era da informática e da internet, os papos eram de boca a boca, por telefone (possuídos por poucos), por cartas (quando não careciam de pressa) e telegramas, se o caso era de urgência. Usei muito os três primeiros na minha juventude, principalmente as cartas, românticas por sua natureza e capazes de eternizar a palavra na tinta e no papel. As mensagens internéticas são coisas da modernidade, como as cartas e o telefone um dia o foram. Mas a velocidade da transformação nas tecnologias hoje é muito maior e não dá nem tempo para o exercício da crítica. Por isso, algumas tecnologias carregam junto com o bônus uma imensa carga de ônus. O problema, obviamente, não é da tecnologia, mas dos usuários que fazem mau uso da ferramenta. As pessoas podem fazer bom ou mau uso de um carro, do dinheiro ou da palavra. Eu mesmo, por exemplo, não sei se estou fazendo bom ou mau uso da palavra, na medida em que exponho as minhas opiniões em minha coluna. De boas intenções o reino de Hades costuma estar cheio.

Mas em relação às mensagens nos WhatsApps, por exemplo, elas têm se tornado um “saco” atualmente. Tá certo que a internet é um espaço democrático e pode – e deve – ser usado por todos, mas há momentos em que somos obrigados a concordar com o filósofo Umberto Eco.

As caixas de mensagens ficam abarrotadas daquelas mensagens de fundo religioso, ou de fundo moral, sempre com um conselho na ponta da língua. Alguém que se pretende ser “apontador de caminhos”, desconhecendo que as pessoas sabem errar sozinhas e não precisam de auxílio para isso. O pior é que você recebe a mesma mensagem mandada por diversos remetentes. Nesse final de ano, aquela da “casa de muitos cômodos vazios, porque todos estão reunidos em torno da mesa da sala” bateu o recorde de repetição. Os caras que “bolam” esses programas para a internet deveriam criar um que avisasse ao remetente: “Essa mensagem já foi mandada para esse destinatário, cara, mande outra…”.

E ainda tem o inconveniente do tamanho da mensagem. Grande parte delas é quilométrica. Para mim, não é problema, pois antes de ler qualquer mensagem que recebo eu a meço. Se passar de dois dedos de tamanho, eu deleto sem ler. É que hoje, com as atribulações do mundo moderno, nós não temos nem tempo, e nem paciência, para certas coisas.

Mas o WhatsApp tem utilidades incríveis. Comunicamos com ele e resolvemos uma infinidade de problemas e não só solucionamos problemas, mas viabilizamos o bom humor trocando piadas e casos engraçados como contributo para atenuar o estresse do dia a dia. Mas aquelas mensagens quilométricas e chatas eu elimino da minha vida diária.

E por que o critério dos dois dedos para medir? Ora, o mineiro sempre teve em sua tradição o hábito de falar em “dois dedos de prosa”. Dois dedos de prosa é uma conversa curta, capaz de esgotar o assunto sem a lenga-lenga da conversa extensa – esta, é chamada, por nós mineiros, de conversa fiada.

A sorte é que uma vez ou outra recebemos um texto poético que anima a vida, como recebi na semana passada “O laço e o abraço”, do Mário Quintana. Tinha mais de dois dedos, mas sendo de quem era, não o deletei. Do Mário Quintana, um palmo e meio de texto no WhatsApp ainda seria pouco. Agradeço à Gilca Napier pela gentileza…

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