Quem pagará a conta?

Francisco Laviola – 07/06/2018

Na semana passada, publiquei aqui neste espaço um artigo sobre a greve dos caminhoneiros e a descoberta da população de quão importante é esta categoria de trabalhadores para o mercado e a economia nacional. A paralisação, defendida e aplaudida por grande parte da população paralisou também o país, deixando um saldo de prejuízo de grandes proporções, cujos reflexos negativos ainda serão sentidos por alguns meses.

Não quero entrar no mérito da discussão se a greve dos motoristas de caminhões foi legítima ou não. E muito menos vou querer discutir aqui se o que eles conseguiram com a deflagração da greve, foi proveitoso em termos econômicos para categoria. O fato incontestável é que fizeram, e, ao fazê-la, deram mostras de que num país onde 70% do transporte de produtos, mercadorias e insumos vitais para a economia são feitos através de rodovias, torna-se obrigatório o respeito a essa categoria de trabalhadores.

Mas como dizem os “professores” do futebol, o jogo é jogado. Nele se perde e se ganha. Neste caso específico, ouso dizer que perdeu quem foi contra, perdeu quem não se manifestou e perderam também aqueles que aplaudiram o movimento. No transtorno pós-greve, a questão do abastecimento de combustíveis está sendo apenas um detalhe a mais. Nos dez dias de paralisação, além da insegurança da população com o desfecho do caso, o que se viu foram empresas perdendo vendas e produtores tendo que jogar no lixo os seus produtos como leite literalmente derramado, frutos de investimentos caros e de tempo de trabalho; milhões de aves e suínos morrendo por falta de alimento; isso para dar apenas dois exemplos. Além dos  produtos que estão fazendo falta, muitas empresas estão com os seus fluxos de caixa comprometidos, devido ao baixo faturamento, e, provavelmente, terão que pedir prorrogação nos seus prazos de compromissos, com reflexos negativos na cadeia que move a economia, podendo até resultar em demissões e mais desemprego.

Aí vem a pergunta que não quer calar: para que serviu então esse movimento grevista tão apoiado pela população, se não houve redução dos preços dos combustíveis nas bombas, e ainda por cima, causou todos esses transtornos para o povo e para a cadeia produtiva que não teve como escoar a sua produção?

E como sempre acontece, mais uma vez se viu a infiltração daqueles que querem tirar proveito da situação. Enquanto o povo batia palma para a greve, descobriu-se um locaute de empresas transportadoras, que aproveitaram para financiar jagunços e agromilícias, com o intuito de obstruir as rodovias de Norte a Sul do país. E afinal, quem ganhou com tudo isso? Os bravos caminhoneiros é que não foram.

Pressionado, o fraco governo de Michel Temer, já sem saída, prometeu subsidiar o diesel para os caminhoneiros baixando 0,46 centavos em cada litro, retirando do Tesouro o dinheiro para arcar com a despesa do subsídio junto à Petrobras. E para completar o imbróglio, chegaram à conclusão de que a estatal não poderá pagar essa conta, uma vez que é somente agora que ela está se recuperando. Se recuperando de que? Da roubalheira que a impuseram nos últimos anos.

Quando vi a população aplaudindo nas redes sociais a greve dos caminhoneiros e os diretores da Petrobrás dizendo que a estatal não pagaria a conta, pensei cá com os meus botões: se a Petrobrás não pode perder porque está em franca recuperação, quem pagará essa conta afinal?  E você, leitor amigo, tem alguma dúvida de quem pagará a conta?

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