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Nelson Rodrigues e o sobrenatural

Se Nelson Rodrigues ainda fosse vivo, certamente, ao escrever as suas crônicas, evocaria o seu famoso personagem, o Sobrenatural de Almeida, como artífice dos inacreditáveis acontecimentos que ocorrem no Brasil de hoje.

Nelson, o famoso dramaturgo, escritor e jornalista, utilizando-se da sua fértil imaginação, concebia vida a esse seu personagem sempre que o Fluminense Futebol Clube, time do seu coração, fazia um gol improvável, o qual ele comemorava com gosto e alegria. Assim também era nas derrotas mais improváveis cujo resultado negativo era sempre “pendurado” com tristeza na conta do mesmo personagem. Suas crônicas nos jornais por onde passou, mostravam todo o seu senso crítico, às vezes polêmico, mas nunca se afastando da sua característica de dar vida aos seus textos. Era assim que ele escrevia sobre futebol, sobre a política do seu tempo – era a favor do Regime Militar – e também na dramaturgia.

Afirmar que há alguns aspectos sobrenaturais inexplicáveis que envolvem todos os acontecimentos do país, talvez fosse considerado um exercício de características hiperbólicas, até porque, há sempre nas trapaças, nas maracutaias, ou em tudo que acontece de ruim no país, uma correlação visível entre as forças de causa e de efeito, geralmente programadas para prosperar os poderosos em detrimento dos fracos e oprimidos.

A Operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, tem encontrado um extraordinário respaldo nas decisões do juiz federal, titular da 13ª Vara Federal do Paraná, Sérgio Moro, para que possam avançar nas suas investigações e desvendar, de vez, este, que parece ser o maior escândalo de corrupção já descoberto no país. É certo, também, que a sociedade tem visto com muito bons olhos e grande interesse o desenrolar dos fatos. Mais do que isto. A sociedade tem acompanhado os noticiários sobre as investigações de todos esses escândalos, com a esperança de que, daqui para frente, todas as instituições do país, tendo como parâmetro as ações da Justiça, possam demonstrar as suas forças no cumprimento das leis e no restabelecimento da ordem.

Mas, eis que entra na história, de forma surpreendente, o Supremo Tribunal Federal – “até tu Brutus?” -, decidindo pelo fatiamento das investigações da Lava-Jato que não tenham, a priori, relação com a Petrobras, limitando, desta forma, a competência do juiz Sérgio Moro para apreciar e julgar os eventuais processos decorrentes de tais investigações.

Note-se que, na ponta das investigações que resultaram nesta decisão da Suprema Corte, está a acusação de corrupção no Ministério do Planejamento, surgindo também como investigada a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ex-ministra da Casa Civil do governo Dilma, portanto, mais um dos pesos-pesados do atual governo. Note-se também, que a matéria decidida pelo Supremo, neste caso, esteve sob os cuidados do ministro Dias Tófoli, ex-advogado do PT em 2002 e 2006, e que foi indicado por Lula para ocupar a cadeira no STF, deixada pelo ministro falecido, Carlos Alberto Direito.

Mesmo assim, embora seja surpreendente, isso não quer dizer que houve uma quebra de confiança da sociedade na mais Alta Corte do país. Além disso, há, em outras jurisdições, juízes também competentes e que queiram seguir os passos do juiz Sérgio Moro. O que houve, na verdade, foi um sentimento de decepção da sociedade, a qual vem acompanhando com interesse e esperança o desenrolar de todo esse imbróglio, principalmente no que tange à atuação impecável e corajosa do juiz da 13ª Vara Federal do Paraná.

Agora, se há nessa história algum procedimento inexplicável, ou, até mesmo forças ocultas que não querem aparecer, mas que agem conspirando dentro das instituições, principalmente dentro da Justiça, logo ela que tem defendido com rigor a nossa democracia e cumprido com zelo as leis do país, possivelmente, todos esses fatos inexplicáveis seriam hoje debitados por Nelson Rodrigues, numa crônica qualquer, à atuação inconteste do seu famoso personagem, o “Sobrenatural de Almeida”.

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