Lições da floresta
As histórias têm sempre muitos ensinamentos para oferecer, principalmente porque a fantasia guarda uma relação muito profunda com a realidade, pois, afinal de contas, os homens constroem a realidade justamente com os subsídios que a fantasia lhes oferece. No fundo, o homem é mesmo um sonhador. Dependendo do homem e de como ele sonha, o sonho pode, às vezes, se transformar em pesadelo…
A Psicologia explica esses desvios. A maior vontade daquele tico-tico era ser importante entre os bichos da floresta. Mas, desafinado como era e com aquele canto rouquenho que mal lhe saía da garganta, não tinha o capital político necessário para liderar os bichos daquela complicada floresta. Tentava se projetar menosprezando o canarinho-da-terra, criticando o seu desempenho e a sua musicalidade, pensando que a passarada da floresta ia dar-lhe atenção. Mero complexo, e por isso acabou se ferrando. Foi expurgado daquela sociedade, justamente por sua arrogância e incompetência para entender os mistérios da floresta. Andar pelas sendas da floresta, conhecer seus atalhos e liderar aquela passarada toda era uma competência e uma arte que ele não tinha. As aulas que teve com um pássaro, mestre naquele ofício, foram poucas e, ainda assim, o pássaro sabido que o ensinara, ensinara-lhe com prazo de validade que já havia vencido… Hiiiii, fazia tempo. O canário, que ele tanto teimou em denegrir a imagem, continuou prestigiado pelos outros pássaros que entendem da arte e principalmente pelo sabiá, o rei do canto. Quanto ao tico-tico… Ah, o tico-tico ficou sendo apenas o tico-tico, e a última notícia que se teve dele é que ele passa os dias esperando o compasso do monjolo para filar uma porçãozinha de fubá para matar a fome…!