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Ética e Moral

Se levarmos em conta a etimologia, podemos notar uma significativa diferença entre a ética e a moral. Enquanto a moral varia no tempo e no espaço, ou seja, em função da época e da comunidade humana estudada, a ética tem padrões definidos e perpassa o tempo e as sociedades. Podemos afirmar que a ética é uma reflexão sobre a moral, um instrumento regulador das relações do homem com os seus semelhantes e com o mundo que o cerca. Os comportamentos morais nós trazemos do berço, ou seja, da estrutura familiar ou de qualquer outra estrutura que nos tenha formado. Se essa formação distancia-se dos princípios éticos, passamos a ser um problema para a vida em sociedade, gerando e acentuando conflitos entre as pessoas e transformando a convivência social em um desprazer.

Quantas pessoas (talvez a maioria) condenam a corrupção de políticos e outras autoridades, mas fura uma fila com a maior naturalidade. A maioria das pessoas é capaz de exercitar em seu dia a dia os maiores atentados à ética e, pela consciência já relaxada pelos seus atos, nem se dá mais conta disso. Alunos ou candidatos a concursos usam o velho e imoral artifício da “cola” para conseguirem nota melhor. Quantas pessoas não devolvem o troco a mais quando o recebem de um caixa de mercado ou de uma loja. Quantos fraudam os impostos. No trânsito, então, nem se fala, a falta de respeito às normas partem de motoristas e de pedestres.

O relaxamento de consciência está tão comum em nossa sociedade, que esta semana me deparei com uma propaganda na televisão sobre uma famosa rede de postos de serviços que, aliás, vinha fazendo propagandas bem criativas, mas essa extrapolou os princípios éticos. Na propaganda, um candidato em um programa de perguntas e respostas é questionado sobre onde encontrar determinados produtos. Ele diz ao apresentador do programa que queria ajuda. Seus “ajudantes” são três jovens que se embaraçam com a pergunta, mas, munidos de minúsculos aparelhos auditivos escondidos em seus ouvidos, recebem a “cola” daquele senhor gordinho que faz a propaganda da tal rede de postos de serviço. Os jovens, então, respondem à pergunta e o candidato ganha os pontos, num flagrante atropelamento dos princípios éticos mais elementares. Ora, é uma pena que uma empresa daquele porte valorize, através da mídia, tamanha falta de ética.

Durante várias décadas atuei como professor, e entre as disciplinas que lecionava uma delas era ética. Pois justamente essa disciplina me reservou, no último ano da minha atuação como professor, uma decepção imensa. Foi em um final de ano letivo. A turma quase completa naquela sexta-feira (o que era raro), e eu falava sobre a importância da ética em nosso comportamento diário e os males que determinados atos e atitudes causam a uma comunidade, e citava exemplos conhecidíssimos de todos. Foi quando um aluno, do meio da sala, disse:

– Ah, professor, isso hoje não “cola” mais não. O meu pai fala que se a gente for bobo nesse mundo, os outros ferram a gente…

Eu parei por um momento, meditei e respondi:

– Você está certo… Você está certo…!

Naquele momento, eu percebi que a batalha é muito árdua para se vencer. Eu, com duas aulas de 50 minutos por semana para falar da importância da ética na vida em sociedade e aquele pai com 24 horas por dia para ensinar o filho a ser outra coisa.

O ano letivo já estava terminando. No ano seguinte, eu não seria mais professor.

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