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Dia Internacional da Mulher: conheça três personalidades que se destacaram em diferentes áreas em nossa cidade

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o jornal A Notícia conversou com três personalidades femininas que atuam na cidade em diferentes áreas para saber sobre desafios, experiências, empoderamento, conquistas e sobre o papel das mulheres nos dias atuais.

Maria Lúcia de Castro Mayrink

Há 54 anos atuando na área educacional, a professora Maria Lúcia de Castro Mayrink, de 84 anos, fundou a Escola de Ensino Fundamental e Infantil Pinguinho de Gente em 1973 com o apoio de toda a sua família.

AN: Como a senhora vê o papel da mulher na educação hoje e antigamente? Era mais difícil ou mais fácil?

Maria Lúcia: Comecei quando surgiu uma notícia que o governo só abriria escolas para crianças a partir dos seis anos de idade. Então, juntamente com uma colega, resolvi abrir uma instituição para crianças menores, minha amiga acabou desistindo, mas eu fui corajosa e resolvi levar a ideia adiante. Recebi apoio total da minha família, principalmente dos meus pais.

No início foram três turmas, totalizando 60 alunos. Cheguei a ter 300 alunos só na Educação Infantil. Costumo dizer que não tive dificuldades, pois me cerquei de pessoas boas e bem preparadas, levando o trabalho a sério e me impondo, porque acredito que temos que nos impor diante das situações para alcançar credibilidade e respeito.

AN: Na educação, as mulheres conquistaram um espaço ainda maior. Neste período você pode citar alguma mulher que te marcou ou que tenha sido um exemplo para a senhora?

Maria Lúcia: Todas as pessoas com quem eu lidei foram dedicadas de “corpo e alma” à educação. Estudei na Escola Estadual Silveira Brum e muitos comentavam sobre a minha grafia, que era muito bonita e eu sempre falava: foi a minha professora Guiomar Abreu que me ensinou.

Logo quando comecei a trabalhar, como servidora municipal, lidei com professoras rurais. Depois trabalhei com uma diretora, dona Zélia Carneiro, que era muito séria e exigente, mas que ensinava muita coisa para mim e para minhas colegas.

Tenho certeza que, devido a todas essas mulheres, me tornei a pessoa que sou hoje, com 54 anos de trabalho na área e com a escola que já possui 45 anos de fundação. Por conta dessas pessoas que me tornei a “Tia Maria Lúcia” e hoje sou muito grata.

AN: A senhora pode deixar uma mensagem de incentivo para as mulheres que atuam na educação e estão nas escolas?

Maria Lúcia: As mulheres de nossa sociedade são muito corajosas e enfrentam todas as dificuldades. Até aquelas que escolhem outra área que não seja a da educação são muito dedicadas e são, muitas vezes, chefes de família. A professora é sempre aquela que todo mundo lembra, que todo mundo respeita, porque ela se impõe, ela estuda e hoje vemos essa “moçada” animada fazendo pós-graduação é sinal de que estamos melhorando, só elevando o nível da nossa cultura, que é algo que damos muita importância na Pinguinho de Gente.

Infelizmente ainda vemos muita coisa errada, como no caso das professoras que sofrem com agressões de alunos, mas acredito que isso vai melhorar. Desejo boa sorte a todas as mulheres que hoje enfrentam uma sala de aula, que se dediquem e não desistam nunca.

Alinne Arquette

Alinne Arquette Leite Novais, Juíza de Direito do Tribunal de Justiça de Minas Gerais há 14 anos, formada em Direito na Universidade Federal de Viçosa e mestra em Direito Civil na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, atuou como professora e coordenadora no Centro Universitário Unifaminas.

AN: Dentro da sua experiência na magistratura e também no Direito, é possível fazer uma pontuação sobre a situação da mulher hoje, sabendo que muitas vivem em situações de risco e vulnerabilidade? E quais relações podem ser feitas com os princípios constitucionais?

Alinne Arquette: Na minha experiência, enquanto mulher, tive em minha sala de aula na faculdade mais mulheres do que homens, pois venho de uma geração na qual a mulher começou a ser incentivada a estudar e a fazer o curso que, efetivamente, quisesse fazer, mas é claro que a mulher sofreu e ainda sofre muito preconceito, no âmbito familiar e no ambiente de trabalho, inclusive aquela que já é empoderada. Felizmente, no setor público, a previsão constitucional de que o ingresso em carreiras depende de concurso, a mulher tem a possibilidade de ocupar espaço igualitário, de equilíbrio e de salários iguais.

No setor privado, sabemos que existe a diferença de valores na remuneração da mulher fazendo o mesmo trabalho, certamente com a mesma qualidade, ou até melhor, pois que a qualidade do trabalho não tem a ver com o gênero, mas sim com a capacidade pessoal. Mas, infelizmente, ainda existe este preconceito. Enquanto magistrada penso que as mulheres precisam da atuação do Poder Judiciário para a sua proteção porque, de fato há muitas mulheres em situação de vulnerabilidade social. A mulher é muito mais sujeita à violência em todos os seus aspectos. Fala-se muito sobre a Lei Maria da Penha e é importante ressaltar que ela protege a mulher não só contra a violência física, mas também contra a violência psicológica e moral.

AN: A palavra “feminismo” foi a mais usada em 2017. Qual a sua opinião sobre o

feminismo?

Alinne Arquette: Penso que o movimento feminista foi necessário para a mulher conquistar algum espaço, porque a ela não era dado nenhum, mas eu penso que o feminismo não pode ser defendido como o contrário do machismo, devendo ser, diversamente, um movimento para mostrar que a capacidade das mulheres não é inferior à dos homens, devendo elas serem respeitadas em todas as relações e bem remuneradas em seu trabalho, tanto quanto os homens. Para que a mulher seja respeitada ela não precisa, e não deve ser tratada como inferior, tampouco como superior. Acredito que nós queremos igualdade de tratamento, nós queremos respeito, mas para isso não queremos deixar de conviver com os homens e, infelizmente, há pessoas que colocam o movimento feminista de maneira tão radical que quase impede que eles se aproximem de nós.

O feminismo foi necessário porque a mulher vivia uma situação de opressão e hipossuficiência em relação ao homem. Existia um desequilíbrio muito grande e ainda existe e o que se deve buscar é o equilíbrio.

AN: Gostaria que você deixasse uma mensagem para as mulheres que queiram seguir a carreira da magistratura.

Alinne Arquette: Primeiro gostaria de dizer que todas as mulheres têm a mesma importância. Sejam elas magistradas ou não, sejam elas até analfabetas. Elas têm a sua importância no mundo, no seu nicho de convivência, no seu ambiente familiar e na sua comunidade. Elas podem fazer a diferença, independentemente de já estarem numa situação de empoderamento, porque ele é conseguido através da educação, mas também pode ser conquistado através de postura de respeitabilidade, que começa com o respeito ao outro.

A carreira de magistrada é uma carreira encantadora em que nós somos respeitadas, mas que ainda passamos por percalços, pois ainda precisamos provar, diferentemente dos homens, nossa capacidade o tempo todo. A mulher não pode desistir de seus sonhos, ela deve buscar alcançar aquilo que pretende na sua comunidade ou na sua família. Às vezes é possível mudar o mundo, mudando o seu próprio ambiente. Pouquíssimas pessoas têm a capacidade de mudar o mundo inteiro, mas cada uma pode contribuir para essa mudança, buscando mudar para melhor o seu meio. É preciso educar nossos filhos para que eles respeitem as mulheres, para que seja possível vivermos outra realidade. E isso, em minha opinião, precisa vir de dentro de casa.

Quero dar os parabéns às mulheres pelo Dia Internacional da Mulher e dizer que, obviamente, se tivéssemos sido sempre tratadas como iguais, não haveria necessidade de um dia específico para nós, que marcasse essa luta por igualdade. Que nós saibamos conduzir uma melhora dessa posição de empoderamento com inteligência, ponderação e maturidade.

Rita de Cássia Larieu

Rita de Cássia Larieu de Paula, médica pediatra, formada no Rio de Janeiro, mãe de duas filhas, atende crianças há 37 anos em Muriaé e conquistou grande reconhecimento ao longo de sua carreira.

AN: Quais os maiores desafios que você enfrentou durante sua carreira?

Rita de Cássia Larieu: Fui uma pessoa tão abençoada e muito bem recebida em Muriaé, que é uma cidade da qual tenho maior gratidão, mas o meu desafio maior foi comigo. Estudei no Rio de Janeiro e queria continuar estudando, como continuo até hoje e sempre me cobrei muito. Eu acredito que mais me cobrei do que fui cobrada pelas pessoas.

Tive um carinho muito grande dos outros. Só tenho a agradecer no fim das contas. Para mim não foi difícil. Mais desafiador foi lidar com a minha exigência.

AN: O que tem a dizer sobre o feminismo?

Rita de Cássia Larieu: Acho muito bonito o fato de a mulher mostrar que tem uma mente, que ela tem poder, que ela pode sonhar. Antigamente, o sonho da mulher era do tamanho do que o homem sonhava e os pais sonhavam para ela. Hoje não, ela é do tamanho do que ela sonha em ser.

O feminismo é a afirmação de seu raciocínio, de sua vontade, da sua ideologia e da sua garra. A mulher sempre foi um ser humano completo, mas agora ela consegue colocar em prática tudo o que sempre sonhou, vivendo de forma independente. Antes, ela precisava completar o homem.

AN: Qual mensagem você deixaria para as mulheres de hoje e, principalmente, para aquelas que estão em situação de vulnerabilidade social e para as que desejam ser médicas?

Rita de Cássia Larieu: Vim de uma família muito pobre e consegui batalhar muito para fazer medicina, que foi uma coisa maravilhosa para mim. Tudo que é difícil, passamos a dar mais valor, acredito que devemos correr atrás e agarrar as oportunidades para alcançar aquilo que queremos.

Hoje ao ver minha filha, também pediatra, fico muito feliz, parece até que eu não sou médica assim como ela. Admiro a forma como ela batalhou, estudou e lutou pelos seus sonhos.

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