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Da licitude de alardear os equívocos alheios

O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade

“(…) A indulgência jamais se ocupa com os maus  atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço.” – José, Espírito Protetor

Jesus não perdia oportunidade para ilustrar os Seus ensinamentos com as cenas do cotidiano para melhor fixar a lição. Assim é que estando com Seus discípulos no Templo, diante do gazofilácio, observava o modo pelo qual o povo lançava ali o dinheiro… Reparou que muitas pessoas ricas o colocavam em abundância. Chegando uma pobre mulher de parcos recursos ali depositou apenas duas moedinhas de valor irrisório.  Chamando Seus discípulos Jesus lhes disse que a contribuição daquela senhora viúva foi muito mais expressiva do que a de todos que a antecederam, visto que estes deram apenas as sobras, enquanto que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para o seu sustento naquele dia.

De outra feita , reparou na atitude daqueles dois homens que subiram ao Templo para orar; um era fariseu, publicano o outro. — O fariseu, conservando-se de pé, orava assim, consigo mesmo: “meu Deus, rendo-vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem mesmo como esse publicano. Jejuo duas vezes na semana; dou o dízimo de tudo o que possuo”.

O publicano, ao contrário, conservando-se afastado, não ousava, sequer, erguer os olhos ao Céu; mas, batia no peito, dizendo: “meu Deus, tem piedade de mim, que sou um pecador”.

Declaro-vos que este voltou para a sua casa, justificado, e o outro não; porquanto, aquele que se eleva será rebaixado e aquele que se humilha será elevado.

Desses dois flagrantes do cotidiano podemos orientar-nos sobre a maneira mais conveniente de proceder ante as situações do dia a dia que nos envolvem. Assim é que, quando flagramos alguém em erro, em alguns casos será repreensível solenizar o fato divulgando-o, enquanto que em outros casos torna-se necessário, um dever mesmo dar ampla divulgação. Como estabelecer a medida do comportamento exato e justo para cada situação? Primeiramente temos que dirigir a nós mesmos a censura que fazemos ao próximo, procurando saber se não a teremos merecido também. (Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado)

Allan Kardec pergunta aos Espíritos : “será repreensível notarem-se as imperfeições dos outros, quando daí nenhum proveito possa resultar para eles, uma vez que não sejam divulgadas?

Resposta: Tudo depende da intenção. Decerto, a ninguém é defeso ver o mal, quando ele existe. Fora mesmo inconveniente ver em toda a parte só o bem. Semelhante ilusão prejudicaria o progresso. O erro está no fazer-se que a observação redunde em detrimento do próximo, desacreditando-o, sem necessidade, na opinião geral. Igualmente repreensível seria fazê-lo alguém apenas para dar expansão a um sentimento de malevolência e à satisfação de apanhar os outros em falta.  Dá-se inteiramente o contrário quando, estendendo sobre o mal um véu, para que o público não o veja, aquele que note os defeitos do próximo o faça em seu proveito pessoal, isto é, para se exercitar em evitar o que reprova nos outros. Essa observação, em suma, não é proveitosa ao moralista? Como pintaria ele os defeitos humanos, se não estudasse os modelos?”

Kardec volta a perguntar : “haverá casos em que convenha se desvende o mal de outrem?

Resposta: – É muito delicada esta questão e, para resolvê-la, necessário se torna apelar para a caridade bem compreendida: se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá nunca em divulgá-la. Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número. Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. Em tal caso, deve-se pesar a soma das vantagens e dos inconvenientes”.

Atentemos, finalmente, nas lúcidas instruções do Espírito Dufêtre : “sede severos convosco, indulgentes para as fraquezas dos outros. É esta uma prática da santa caridade, que bem poucas pessoas observam. Todos vós tendes maus pendores a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tendes um fardo mais ou menos pesado a alijar, para poderdes galgar o cume da montanha do progresso. Por que então, haveis de mostrar-vos tão clarividentes com relação ao próximo e tão cegos com relação a vós mesmos?  Quando deixareis de perceber, nos olhos de vossos irmãos, o pequenino argueiro que os incomoda, sem atentardes na trave que, nos vossos olhos, vos cega, fazendo-vos ir de queda em queda? Crede nos vossos irmãos, os Espíritos! Todo homem, bastante orgulhoso para se julgar superior, em virtude e mérito, aos seus irmãos encarnados, é insensato e culpado: Deus o castigará no dia da Sua justiça.  O verdadeiro caráter da caridade é a modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um apenas superficialmente os defeitos de outrem e esforçar-se por fazer que prevaleça o que há nele de bom e virtuoso, porquanto, embora o coração humano seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas dobras mais ocultas, o gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da essência espiritual”.

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