A credibilidade em jogo
Quando o presidente Michel Temer assumiu o governo, logo após o impeachment da Dilma, escrevi aqui neste espaço que ele não teria vida fácil no seu governo. Além da exiguidade do tempo que lhe restava – dois anos e quatro meses –, Temer teria que atacar várias frentes para tentar recolocar o país nos trilhos.
O legado deixado após os 13 anos do governo petista é visto como uma herança maldita e foi marcado pela abertura de feridas profundas, antevistas como de difícil cicatrização. Recessão, desemprego, empresas endividadas, falta de confiança na classe política, corrupção, a farra dos gastos públicos com as despesas superando as receitas, ou seja, um imenso rol de adversidades que só podem ser comparadas a uma avalanche soterrando o mais crucial elemento de sustentação de qualquer governo: a credibilidade.
Se não bastasse tudo isso, a nova oposição, inconformada com a perda do poder, ainda o acusa até os dias de hoje de ser um usurpador do cargo, de golpista e sem legitimidade, na tentativa impatriótica de desestabilizá-lo.
Foi nesse clima claudicante e de total desconfiança que Temer assumiu o poder. Até o momento, cinco de seus ministros escolhidos a dedo caíram, sendo quatro deles envolvidos em casos suspeitos e que se encontram sob investigação da Polícia Federal. Caíram Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), Henrique Eduardo Alves, (Turismo), Fábio Medeiros Osório (Advocacia-Geral da União) e, recentemente, o ministro da Cultura, Marcelo Calero. Até o momento, o presidente tem mantido a postura de se descolar daqueles que, sabidamente, podem lhe causar problemas ou constrangimentos.
Porém, o caso mais emblemático foi o do ministro da Cultura, que embora tenha pedido demissão, a princípio por razões de foro íntimo, saiu posteriormente atirando contra outro ministro, o da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, acusando-o de pressioná-lo para liberar a obra de um edifício em Salvador, onde ele, Geddel, possui um apartamento, ou seja, mais um caso típico e explícito de tráfico influência.
O Brasil passou 13 anos sob a égide do conluio, do tráfico de influência, do corporativismo entre os políticos especialmente montado para blindar desvios de conduta de seus apaniguados, inclusive aqueles que assaltaram a Petrobras e os Fundos de Pensão. As informações dão conta de que, nesse caso específico, já existem vários aliados do governo Temer trabalhando na montagem de um esquema de proteção para blindar o ministro Geddel, com uma séria tendência de o presidente dar o caso por encerrado. Ocorre que não cabe mais esse tipo de conduta, se quiserem colocar o país nos trilhos.
Se o caso não for colocado em pratos limpos pela Comissão de Ética da Presidência da República, o presidente Michel Temer pode incorrer no mesmo erro dos governos anteriores, principalmente levando-se em conta que, embora ele esteja buscando a pacificação do país, o seu governo não tem toda essa credibilidade e os brasileiros já estão cansados de ver esse filme de terror. Nesse momento de incertezas, transparência e credibilidade são palavras-chave indispensáveis para a continuidade do seu mandato.