O trânsito e o homem

Quem criou o trânsito e os seus problemas foi o próprio homem. Primeiro, apropriou-se do espaço para a construção das cidades e, sem prever a expansão do seu próprio gênio, idealizou ruas estreitas e tortuosas que atendiam às carruagens e aranhas da época, mas que não suportaram o volume e a velocidade dos veículos modernos. Depois, entupiu as cidades de veículos até a exaustão, congestionando o trânsito e a vida.

Muriaé não foi diferente dos outros centros urbanos. Nascida de uma rua inicial nas cercanias da cachoeira do Rosário e que se estendia ao longo do rio que lhe daria o nome, essa rua dividiu-se e redividiu-se em infinidades de ruas estreitas e sem planejamento, como um caos anunciado para o congestionamento do tráfego de veículos no futuro. Ao longo de muito tempo, essas estreitas e mal planejadas ruas atenderam ao limitado número de veículos que trafegavam. Nos anos 50, por exemplo, jogávamos bola na Rua Desembargador Canêdo, chamada ainda Rua do Canto, nos longos intervalos entre um carro e outro que passava. Na Rua do Canto, em toda a sua extensão, haviam pouquíssimos carros. Que eu me lembre, uma sedanete amarela do senhor Aristóteles Campos, um sedan Ford preto do meu pai e uma baratinha Ford 1929 com banco para sogra, do Dr. Newton Resende. O resto era um espaço imenso para a meninada jogar “bola de meia” e para as poucas charretes e carroças que raramente passavam.

Os tempos e os hábitos mudaram, e à medida que mudavam, os homens se motorizavam e ocupavam cada vez mais o espaço do nosso “campo de futebol”. Hoje, com cento e poucos mil habitantes, a nossa Muriaé tem perto de 50 mil carros e aproximadamente 15 mil motocicletas em suas ruas. Proporcionalmente mais carros do que o Rio de Janeiro, que tendo cerca de 6.500.000 mil habitantes, tem em torno de 1.860.000 veículos, não chegando à relação de veículos por habitantes que tem Muriaé.

Mas a engenhosidade dos homens vai tentando dirimir os problemas do trânsito em Muriaé. Na atual administração que se encerra no próximo dia 31 de dezembro, foram dados passos importantes para melhorar o trânsito em nossa cidade. Primeiro, a construção de passagens elevadas para pedestres e a reformulação de algumas que foram construídas pela administração passada fora dos padrões e da legislação de trânsito. Depois, a construção de rotatórias e cruzamentos estratégicos em vários pontos da cidade, e, finalmente, a instalação de diversos semáforos que hoje são instrumentos essenciais para melhorar o trânsito urbano em nossa cidade.

Mas a mudança principal ainda está longe de ser feita e não se refere a passagens elevadas, rotatórias ou semáforos, mas é aquela operada nas pessoas. O maior problema do nosso trânsito ainda são os motoristas e os pedestres. Ambos não estão muito a fim de respeitar as regras. Grande parte dos pedestres ignora o sinal e atravessa a via quando a vez é do veículo e grande parte dos condutores desrespeita a vez do pedestre, principalmente os condutores de motos cuja pequena parte poderíamos chamar de motociclistas e a uma grande parte, de motoqueiros.

O grande problema do nosso trânsito, portanto, continua sendo o elemento humano. A solução definitiva deverá vir mesmo com a municipalização do trânsito e a criação da Guarda Municipal para cuidar do trânsito e multar os infratores. Conscientização é um termo bonito e sempre em moda, mas, infelizmente, as pessoas às vezes só se tocam quando são tocadas em seu órgão mais sensível, que é o bolso…!

Deixe um comentário


Outras Notícias