Tempo sujeito a tempestades, raios e trovoadas
Como já fazia parte do script dessa novela pastelão que inundou o país com suas situações tragicômicas, não está nada fácil para o presidente interino, Michel Temer, governar. Primeiro, porque ele pegou uma economia bombardeada, totalmente desajustada e com a agravante de ter a obrigação de mostrar serviço num curtíssimo espaço de tempo, para ganhar a confiança do mercado nacional e internacional. Segundo, porque a classe política anda em frangalhos moralmente e cercar-se de auxiliares competentes e que tenham um passado limpo, que possa dar ao seu governo um suporte moral para fazer o tal governo de “salvação nacional”, é hoje um tremendo desafio. Prova disso é que, em menos de 20 dias de governo, dois dos seus ministros escolhidos a dedo já foram para o espaço. Além disso, há ainda a artilharia pesada da nova oposição que conseguiu, enquanto foi governo, implodir o país, e agora querem explodir o que restou para não ficar nenhum vestígio da destruição moral que impuseram ao Brasil. O mote velado da campanhacontra Temer é: quanto pior, melhor.
Enquanto de um lado “a luta continua, companheiros” a qualquer custo, do outro, há uma tentativa desesperada de buscar soluções para uma governabilidade possível, sem direito a cometer os mesmos erros do fisiologismo e do império do “toma lá, dá cá”, marcas registradas dos governos Lula/Dilma e que mergulharam o país na maior crise moral de sua história.
A verdade é que o país precisa de reformas estruturais urgentes para voltar a crescer e estancar a sangria do desemprego, que já anda na casa dos 11 milhões de pessoas sem ter o que fazer, ou seja, correspondente a uma população inteira da cidade de São Paulo, a maior do país. Mas antes, é imprescindível compatibilizar os gastos públicos com os programas sociais, com a saúde, educação e com outras demandas infinitas da população para ganhar a confiança e robustecer o governo interino. Tudo isso depende, entretanto, do que pode acontecer ainda nos próximos capítulos da Lava-Jato. Cada situação reveladora das delações de empreiteiros e políticos presos soa como uma bomba, com reflexo direto no governo, que acaba sendo jogado na mesma panela de fritura do governo anterior.
Não se sabe, entretanto, se isso é bom ou ruim. Nessa altura do “campeonato”, tudo pode acontecer, inclusive a volta da Dilma, que também não terá moral para governar o país e, neste caso, resta a possibilidade da realização de novas eleições para presidente e que também dependerá da boa vontade do Congresso. Portanto, qualquer previsão daqui para frente é um mero exercício de futurologia. O tempo está sujeito a trovões, raios e tempestades. É como escreveu Ancelmo Gois, colunista do jornal O Globo: “Quem for escrever, hoje, uma análise sobre o futuro do Brasil, tem que colocar no texto, a exemplo de uma apólice de seguro, um alerta: Estas previsões não incluem terremotos, maremotos, erupções vulcânicas, alagamentos e… Lava-Jato”. Faz sentido, não?