O que esperar para o futuro?
As delações de empreiteiros, políticos já presos e de executivos de empresas ligadas ao esquema de corrupção no país têm sido um importante canal utilizado pelas equipes de investigação da Polícia Federal, que repassa as informações e provas colhidas à Procuradoria Geral da União para que possa tomar as providências cabíveis. Assim tem sido a condução do trabalho conjunto das duas instituições que vêm desmantelando todo o aparelhamento do Estado promovido criminosamente por integrantes dos últimos governos.
Claro que as delações terão que ser filtradas pela Justiça no sentido de buscar a veracidade dos fatos alegados, uma vez que os delatores, para se safarem ou conseguirem uma pena menor, estão com uma metralhadora giratória nas mãos atirando em alvos que podem ser certeiros ou não. Tudo isso dependerá dos resultados de abertura de inquéritos e das investigações a serem feitas. Nos casos da Operação Lava-Jato, por exemplo, aqueles que têm mandato em curso, têm a seu favor o foro privilegiado, que pode lhes dar uma sobrevida ao serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal, já abarrotado de recursos; quem não o tem, segue direto, após a denúncia da Procuradoria, para as mãos do juiz Sérgio Moro.
As bombásticas delações desta semana ficaram por conta de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, que aponta como recebedores de propinas vários políticos, não só do alto escalão dos últimos governos, passando por Lula, Dilma e até o presidente interino, Michel Temer, como também integrantes da cúpula de vários outros partidos, demonstrando, a priori, que a corrupção institucionalizada no país é suprapartidária, uma vez que envolve também políticos importantes da antiga oposição. Pior. No presente momento, não se vislumbra quase nenhuma liderança que não tenha sido citada como beneficiária do esquema. O cenário desenhado até agora é de muito joio e pouquíssimo trigo.
Até aí, nada de novo, pois tudo isso que foi dito até aqui está estampado nas manchetes dos jornais todos os dias, inclusive “dando-se nome aos bois”. Na verdade, o que é alarmante são as cifras relatadas como valores recebidos pela maioria de políticos com mandato ou já sem ele. Só se fala em R$ 100 mil, R$ 200 mil e de R$ 500 mil para cima, e a maioria, chegando à casa dos milhões de reais para cada um, entre propinas surrupiadas das estatais para pagamento direto aos envolvidos ou mascaradas como recursos de campanha, geralmente utilizando-se o caixa dois, que não por acaso, também é crime.
Se considerarmos que, segundo as informações, a Petrobras, em 2015, deu um prejuízo de mais de R$ 34 bilhões, a Eletrobras, um prejuízo de mais de R$ 14 bilhões e os Correios, mais de R$ 2 bilhões, só para mencionar três estatais importantes, dá para se ter uma ideia do volume das transações criminosas que permeavam nos subterrâneos do Poder Central. E a ideia do volume da roubalheira pode se estender um pouco mais, se considerarmos que existem no Brasil hoje um número de 125 estatais comandadas, na sua maioria, por apadrinhados de políticos pertencentes a diversos partidos, os quais formaram toda a base aliada dos últimos governos.
Quando se fala em cifras tão altas, surrupiadas do Tesouro Nacional através desse esquema sistêmico de corrupção, se compararmos esses valores à vida que os brasileiros levam, ou seja, a precariedade da contrapartida dos altos impostos que todos pagam para usufruírem de direitos básicos como saúde, educação, moradia, segurança pública e outros mais, é que se constata o grau de perversidade desses crimes que são praticados. Considerando as circunstâncias e a disparidade de poder, esses delitos praticados por gente poderosa deveriam ser tratados como crimes hediondos. Enquanto roubam descaradamente o país, há brasileiros morrendo nas filas dos hospitais públicos, há brasileiros morrendo de frio ou de fome nas ruas das cidades, sem falar na superlotação de presídios, demandas para as quais nunca existem verbas. E o pior é que eles ainda têm a coragem de subir nos palanques para falarem de avanços sociais.
Meu Deus! O que poderemos esperar para o futuro?