O Brasil e a Copa do Mundo
Francisco Laviola – 17/05/2018
Estamos a menos de um mês da abertura da Copa do Mundo. O torneio que é um dos dois maiores eventos esportivos do Planeta – o outro é a Olimpíada – movimenta o mundo do esporte, não só os países que se classificaram para a competição, mas também todos aqueles que curtem e praticam-o. Portanto, a partir do próximo mês, os olhos da maior parte do mundo estarão voltados para a Rússia. A abertura do evento será no estádio de Luzniki, onde jogarão as seleções da anfitriã, Rússia e da Arábia Saudita.
Já tive a oportunidade de publicar aqui neste espaço um texto sobre a paixão que este esporte desperta nos brasileiros. Trata-se do esporte dos contrastes da mesma forma como se aprende nas lições de física, onde é ensinada e defendida a tese de que os opostos se atraem. Torcer e conviver com o futebol é confrontar os limites da emoção e da razão, onde caminhos antagônicos seguem absolutamente juntos.
Querem ver? São caminhos que levam o torcedor a sentir em frações de segundo as emoções do amor e do ódio, a ansiedade e o alívio, compartilhando momentos de tristezas e alegrias, tentando aliar, como se possível fosse, os erros e os acertos, o azar e a sorte, a oração e o palavrão. É dentro destes princípios antagônicos que vivem os torcedores durante uma partida de futebol. Ainda mais quando se trata de uma seleção brasileira. Nesse cenário de antagonismos vão se perpetuando as emoções da convivência que entrelaçam sem nenhuma diferença o pobre, o rico, o negro, o branco, o índio, o evangélico, o católico, a autoridade ou qualquer um do povo. Por tudo isso que o futebol no nosso país é tão mágico quanto apaixonante.
Pela paixão que os brasileiros nutrem pelo futebol, as proximidades da realização de mais uma Copa do Mundo já deveriam estar causando aquele friozinho na barriga, característico da ansiedade. Não sei se estou enganado, mas não é o que está ocorrendo. A não ser a imprensa esportiva que tenta a todo custo promover o evento, até por que ela vive disto, não estou percebendo aquele “frisson” do povo pela espera da competição. Penso que o povo brasileiro anda tão desencantado com tudo o que vem acontecendo no país, que pelo menos por enquanto, ele não está dando a mínima atenção para o evento. A mim me parece, que pela primeira vez na história das Copas, o povo está mais preocupado é com a própria segurança, com falta de perspectivas de melhora na saúde, que é uma demanda infinita, com a falta de investimentos na educação, e principalmente, com o desemprego que anda batendo na porta de todos os trabalhadores. Ou seja, vejo hoje os brasileiros muito mais preocupados com o futuro do país do que com uma eventual catástrofe que possa acontecer com o Neymar e sua turma.
Pode ser que as coisas mudem até lá, mas apesar de gostar também do esporte e do evento, acho que temos mesmo é que pensar muito no que fazer nas próximas eleições, que vão acontecer poucos meses depois. Será a partir das eleições que estaremos projetando o que queremos para todos nós e para o futuro do país. Que deixem a Copa rolar lá Rússia, mas que estejam atentos no que vai acontecer também a partir do dia 7 de outubro deste ano. Olho vivo, portanto.