Lançamento de livro histórico em Muriaé aborda poder político e transmissão familiar

Na noite de 16 de novembro, a Casa NANDY, em Muriaé, foi palco do lançamento do livro “Transmissão Familiar e Poder Político”, da autora Letícia Bicalho Canêdo, professora doutora da Unicamp e uma das mais renomadas historiadoras do país. O evento, que também incluiu uma sessão de autógrafos, destacou-se como um momento marcante para o debate sobre a história política de Muriaé e do Brasil.

A obra oferece uma análise aprofundada sobre estratégias familiares de grupos sociais que atuam nos espaços de poder local e nacional, especialmente em períodos de reestruturação política. Letícia explora como elementos como governo, partidos e eleições, frequentemente idealizados no discurso político, podem ser obstáculos para compreender as dinâmicas reais de transmissão de poder. A autora questiona práticas como nepotismo e apadrinhamento e reflete sobre os desafios de tornar o acesso aos cargos políticos mais transparente.

Letícia Bicalho Canêdo nasceu em Muriaé em 1942 e construiu uma carreira brilhante como professora titular na Unicamp. Suas pesquisas sempre focaram as transformações das elites políticas brasileiras, investigando aspectos como recrutamento, legitimidade e trajetórias dos grupos dirigentes. Foi também coordenadora nacional do projeto Circulação Internacional e Formação das Elites Dirigentes Brasileiras, que resultou em publicações significativas, como Estratégias Educativas das Elites Brasileiras na Era da Globalização (Hucitec/Fapesp, 2013).

O livro, com sua abordagem inovadora e relevância histórica, está disponível para compra no site www.atelie.com.br e também na Casa NANDY, em Muriaé.

A Notícia entrevistou a autora para saber mais sobre a concepção da obra e a herança política brasileira.

A Notícia – O que motivou a escrita de Transmissão Familiar e Poder Político?
Letícia Canêdo – Minha origem em uma família política mineira foi essencial. Após anos de estudo e pesquisa, investiguei as práticas políticas de Minas Gerais para ir além de uma visão idealizada, focando como certas dinastias mantêm poder em momentos cruciais de mudanças políticas.

A Notícia – Como idealizações ainda influenciam a política e como práticas como nepotismo evoluíram no Brasil?
Letícia Canêdo – Idealizações distorcem a compreensão da política, restringindo-a a padrões normativos. Nepotismo e apadrinhamento são vistos como desvios, mas refletem adaptações históricas à modernidade, sustentadas por redes familiares e sociais complexas.

A Notícia – Quais os desafios para romper tradições de transmissão familiar do poder?
Letícia Canêdo – Transmissões familiares de poder político são estratégias que exigem aprendizado familiar e redes de patronagem. Rompê-las requer mudanças profundas nas relações sociais, que vão além de medidas formais de transparência e controle.

A Notícia – Quais dificuldades e surpresas encontrou na pesquisa?
Letícia Canêdo – A socialização política ocorre em rituais familiares discretos, muitas vezes sustentados por mulheres. Descobri que elas desempenham um papel vital ao estruturar e manter redes de poder político, frequentemente invisíveis ou subestimadas.

A Notícia – Como Muriaé se conecta ao tema do livro?
Letícia Canêdo – Minha família teve forte influência na política local e estadual, com gerações ocupando cargos públicos. Essa história reflete como dinastias políticas locais conectam-se ao cenário nacional.

A Notícia – Quais as principais diferenças e semelhanças no cenário político passado e atual?
Letícia Canêdo – A visibilidade feminina cresceu. Antes, mulheres sustentavam laços políticos discretamente; hoje, assumem papéis de destaque. No entanto, a busca pelo poder familiar persiste, adaptando-se às mudanças históricas.

A Notícia – Qual o impacto do livro para o pensamento crítico sobre política?
Letícia Canêdo – O livro promove abordagens interdisciplinares e estimula o uso consciente das experiências pessoais na pesquisa. Espero inspirar jovens pesquisadores a explorar a política além de visões normativas.

A Notícia – O que mudou no perfil das elites políticas nas últimas décadas?
Letícia Canêdo – A globalização transformou estratégias de dominação das elites, intensificando a internacionalização da educação e dos processos de decisão política.

A Notícia – Como resumiria a importância de compreender a transmissão familiar de poder?
Letícia Canêdo – Ela reflete como práticas familiares moldam a política, destacando responsabilidades herdadas e adaptadas por homens e mulheres ao longo das gerações.

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