Search
Close this search box.

Fé e fanatismo

Tudo aquilo em que exageramos é prejudicial. A bebida em excesso, a comida em excesso, até a paixão, se excessiva transmuda-se em obsessão. Com a religião, não é diferente.

O fanatismo muitas vezes andou lado a lado com as mais diversas formas de expressão religiosa. A humanidade já assistiu a sacrifícios de animais e até de seres humanos em oferendas para acalmar vulcões em erupção ou para agradar deuses; milhares de pessoas foram queimadas em praça pública em nome de crenças religiosas; mulheres continuam sendo escondidas atrás de burcas negras, discriminadas e massacradas em seus anseios e homens se deixam explodir em bombas em nome de uma religião que se prendeu no tempo e não se abre para uma verdadeira concepção Deus, mais coerente com a racionalidade.

A fé, embora se opondo a um raciocínio cartesiano, tem sido sim um grande esteio para o homem, em momentos de insegurança e fragilidade. Uma oração, tem mais força pela motivação subjetiva que provoca naquele que ora, do que por si mesma. Seu efeito é mais imanente do que transcendente. Se pronunciada com a atenção interior daquele que ora, sem as distrações exteriores, produz efeitos positivos, chamados por muitos de milagre.

Mas quando a fé extrapola determinados limites ela atinge o terreno perigoso do fanatismo. O uso de cilícios, mortificações, cintos com pregos para ferir o corpo como forma de conseguir, com o sofrimento, as graças do Criador ou de algum santo protetor, foi sempre muito recorrente nas religiões, partindo-se do errôneo princípio de que o sofrimento enobrece, quando na realidade degrada. E isso é fazer pouco do próprio criador. No Séc. IV, Aurélio Agostinho fazia coisas semelhantes, mas ele viveu no séc. IV. Já no Séc. XIII, por volta do ano 1250, Tomás de Aquino já ensinava que devemos tratar bem o corpo, pois o corpo é o templo de Deus.

Não é difícil entender determinados comportamentos em relação a crenças religiosas nos primórdios das civilizações ou em grupos étnicos que se prenderam a crenças do passado e continuam exercitando tais práticas. É o caso de determinadas “correntes” que recebemos em nossas caixas de correio. Corrente é o nome exemplarmente adequado, pois algumas pessoas se encontram mesmo acorrentadas a esses conceitos.

A última que recebi foi a “Corrente Milagrosa de Nossa Senhora Aparecida”. Diz o texto que aquele que não mandar quatro cópias diárias a diferentes pessoas, durante sessenta dias poderá sofrer graves conseqüências. Afirma ainda o texto que o dono de um escritório precisava de 1 milhão de reais e o ganhou, mas como interrompeu a corrente… teve vários problemas. O dono de uma padaria interrompeu a corrente e perdeu o seu filho. Com todo o respeito às convicções alheias, acho difícil acreditar que a bondosa Nossa Senhora Aparecida possa ter um temperamento assim, tão vingativo.

Eu nunca gostei de correntes. Nem as que me prendem o espírito e nem essas que circulam pelas caixas de correio. Principalmente quando vêm acompanhadas de pragas para quem interrompê-las.

Ninguém sabe como é o Criador ou o ordenador desse imenso e maravilhoso Universo.  Nem as Filosofias e nem as Igrejas. Mas temos a suposição de que um ser dotado de uma perfeição tão imensa assim, capaz de criar ou ordenar o Universo, deve passar bem longe dos fanatismos e dos radicalismos praticados pelos seres humanos.

Deixe um comentário

Outras Notícias