Salvem-se aqueles que puderem

Eu escrevi nas duas últimas crônicas, aqui neste espaço, que a “chapa” ainda ia esquentar muito e que o tempo, para os políticos, estava para tempestades, raios e trovoadas.

Por certo, não precisava fazer nenhum exercício de futurologia ou ter o dom do vaticínio para chegar, por tão óbvio, a essa conclusão. Os grandes figurões da política nacional dos últimos anos, com pouquíssimas exceções, estão em polvorosa, alvoroçados.  Toda a sujeira que foi escondida debaixo dos tapetes, durante anos a fio, está vindo à tona. Fruto das delações premiadas feitas pelos grandes empreiteiros já presos, as denúncias de crimes em série, que hoje estão sendo descobertos e divulgados em função do trabalho incansável da Polícia Federal e do Ministério Público, mostram a desmoralização de grande parte da representação política, uma corja de indivíduos sem escrúpulos, que conseguiram mergulhar um país tão generoso como o Brasil num verdadeiro mar de lamas.

A crise política instalada hoje no país passa, sem dúvida, pela prática sistêmica de uma corrupção suprapartidária. As investigações que se aprofundam a cada dia, demonstram que a maioria dos partidos políticos existentes hoje no Brasil faz parte do rol dos chamados lesa-pátria. E isto se deve à descarada ladroagem que há anos vem sendo implantada em todos os setores das principais instituições da administração pública. Mas se deve, principalmente, em função da existência deste estapafúrdio quadro partidário existente no país.

Para se ter uma ideia, há hoje no Brasil nada menos do que 35 partidos legalizados, fora outros que se encontram na fila, buscando assinaturas para a sua legalização. Grande parte desses partidos são legendas de aluguel, sem ideologias e sem um alicerce programático que possa proporcionar-lhes qualquer sustentação viável para andar com as próprias pernas. O futuro de muitos deles se concentra apenas no fisiologismo barato, ou seja, encostarem-se em quem tiver o poder de mando, ou fazer leilão da legenda para se dar bem. Ter um partido nas mãos hoje, a nível nacional, mesmo que não seja tão representativo, vale, além do Fundo Partidário, a possibilidade de negociatas, ou seja, grana certa no bolso.

É por causa desse jogo sujo jogado contra o povo brasileiro, que grandes figurões que integram vários partidos estão na mira da Polícia Federal ou do Ministério Público, representado pelo procurador da República, Rodrigo Janot, ou ainda, sujeitos às canetadas implacáveis do juiz Sérgio Moro e do ministro do Supremo, Teori Zavascki. Entretanto, apesar da reconhecida independência do Judiciário, levar os caciques para a “jaula” não é tão fácil assim. Tanto é que, segundo os noticiários, já há uma movimentação de união entre vários partidos para evitar as prisões de figurões como Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá, todos do PMDB.

Enquanto isso, as delações continuam e as investigações da PF também. E salvem-se aqueles que puderem. Quem não puder se explicar com a Justiça, que vá para o “xilindró” ver o sol nascer quadrado, seja de que partido for, até porque, a Lava-Jato ganhou musculatura com o apoio da sociedade e não serão os corruptos, governistas ou não, sejam os novos ou os antigos, que irão barrar as suas ações.

No mais, como nada é previsível quando se trata de política, só nos resta esperar os próximos capítulos, para que possamos ver qual será o final desse imbróglio todo.

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