O riso das hienas
O Brasil, pelo menos o Brasil do bem, que desejava a moralização de seus quadros políticos e de suas instituições, ficou chocado com a derrota dos nossos sonhos em nossa Corte Suprema de Justiça. Fomos derrotados em nossos ideais de passar a limpo uma nação conspurcada pela corrupção e pelo deboche daqueles que a corrompiam; fomos derrotados em nossos sonhos de transformar o nosso país em um Estado respeitado entre seus pares. A esperança durou um átimo… uma fração de tempo até que as hienas, camufladas pela retórica de suas palavras, devolvessem às ruas e à liberdade aqueles que estupraram a dignidade da nossa pátria.
Para que sobrem alguns recursos para corrigirmos nossas distorções na área social, algumas ações deveriam ser implementadas como, por exemplo, a extinção da Operação Lava-Jato, a redução drástica do efetivo da Polícia Federal, a redução do Ministério Público e, por que não, a extinção dos Tribunais de Primeira e Segunda Instâncias. Para que o oneroso trabalho investigativo da Polícia Federal, do Ministério Público e os julgamentos longos e onerosos dos Tribunais de Instâncias Inferiores, se os corruptos remeterão suas ações à Corte Suprema e, através de recursos que a própria lei oferece como bônus, protelarão as sentenças até que o tempo, como manto protetor dos infratores, propicie a prescrição dos processos e a abertura de espumantes e deliciosas “Veuve Clicquot”.
Mas e o povo? Ah… o povo será sempre aquele esperançoso, empurrando um carro-de-bois atolado no barro até o cocão de garapa.
O nosso Brasil perdeu mais uma vez o bonde da história para se tornar de vez o país que as pessoas de bem querem e não o país onde os larápios são intocáveis.
Não importa a retórica e a eloquência usadas. Não importa a ostentação dos rebuscados termos jurídicos ornamentados com o mais rebuscado latim ciceroniano. O povo, na sabedoria da sua interioridade já sabia de cor e salteado a motivação da cantilena, a desgastada cantilena que vem poluindo os nossos ouvidos, pedindo a soltura e a não punição de contumazes corruptos.
Mesmo com o voto livre e democrático está sendo difícil consertar esse país. Os embaraços das próprias leis que deveriam servir de parâmetros para o bom e necessário comportamento social, servem de “atalhos” para se conseguir objetivos escusos.
Giordano Bruno, o grande pensador italiano, quando a caminho da fogueira disse que errara sim, quando pensou que os detentores de um sistema pudessem mudar as regras do sistema. Suas ideias ficaram como memórias de uma literatura filosófica, mas as forças que o queimaram vivo no “Campo dei Fiori”, em Roma continuaram atuantes, mais vivas que as chamas que queimaram o corpo do filósofo.
Vamos assistir agora a enxurrada de HC (que em alguns casos bem poderíamos chamar de “Habeas Corruptus”).
Mas existe uma esperança: as pessoas não são eternas. Um dia a “indesejada das gentes” (como diria Manoel Bandeira) chega sorrateira e tanto corruptos como honestos deixam o mundo dos vivos. É uma renovação demorada mas é o processo natural que o mundo usa para fazer a sua catarse e renovar a sociedade dos humanos. Muita gente boa é levada no processo, mas, pelo menos, irão para o esgoto os corruptos que dilapidaram durante tantos anos os recursos do nosso país.
E as hienas? Como disse certa vez um humorista: “A hiena é o único animal irracional que ri. Ela se alimenta de carnes putrefatas e pratica sexo só uma vez por ano e ainda ri ! Ri de quê…?”.