O estadista e o político
Contemplando o cenário de uma eventual crise mundial que pode chegar ainda no próximo semestre, é impossível não nos preocuparmos. Motivos não faltam. O novo coronavírus, certamente, da forma como se espalha, é uma ameaça à traquilidade da população do mundo inteiro. Não só pelo que esse vírus representa de risco à saúde dos povos em geral por causa da força com a qual ele se espalha, mas também pelos reflexos estendidos a economia global.
Já há alguns anos que estamos vivendo uma recessão na nossa economia, ou no mínimo, um crescimento pífio. Não é esse o caminho sonhado pelos brasileiros durante as eleições de 2018. A eleição de Jair Bolsonaro e a reforma de mais de 40% do Congresso Nacional, além de uma demonstração inequívoca da insatisfação do povo com os últimos governos e o Parlamento, foi também, por via de consequência, fruto da esperança de uma mudança radical na condução dos destinos do país. Se antes tínhamos o discurso de porta de fábrica que anunciava a predileção pelo companheiro sindicalista, que ao final decepcionou o distinto público, hoje temos o discurso ideológico que também já não agrada a maioria de quem buscou a direita como tábua de salvação nacional. O populismo de direita ou de esquerda acaba por transformar seus líderes em divindades infalíveis aos olhos de quem os seguem. Esquecem-se os seguidores que os eleitos, para fazer bem o papel para o qual foram escolhidos, devem ter um compromisso com o futuro e com as próximas gerações.
Não foi por acaso que comecei falando do coronavíros e de como essa epidemia pode influenciar na economia nacional. Se o mundo inteiro está preocupado com o que pode acontecer a partir da possibilidade de uma pandemia, não será o Brasil com a sua frágil economia que poderá ficar inerte neste momento de tensão mundial. Pior do que a inércia é a capacidade que tem o nosso presidente de fabricar crises entre as principais instituições só para agradar os seus seguidores. E mais: Tudo isso vem acontecendo num momento em que o país necessita urgentemente de pacificação entre as suas instituições para buscar as reformas necessárias ao seu crescimento e tornar-se menos vulnerável às peripécias do mercado internacional. Na contramão de tudo, temos visto um vendaval de radicalismos e uma histeria que nada tem a ver com as necessidades do país do presente.
Se assim está sendo nos dias atuais, com demandas as mais diversas como desemprego, saúde precária, educação falha, segurança em frangalhos e risco de uma pandemia que pode afetar ainda mais a economia nacional, como estará sendo projetado o país do futuro? Melhor o presidente descer do palanque eleitoral, de onde nunca saiu, deixar de governar com as vistas voltadas somente para os seus seguidores e pensar com urgência nas futuras gerações. É como escreveu James Clarke, pregador e historiador americano: “Um político pensa na próxima eleição. Um estadista, na próxima geração”. Faz sentido, não?