Cultura Afro
Cemig lança livro que traz registro inédito de quilombolas de todo o estado
Um trabalho inédito de documentação em texto e fotos das comunidades remanescentes quilombos de Minas Gerais foi lançado no Sempre um Papo de 2 de junho, no auditório da Cemig. O livro “Quilombolas” é resultante do projeto Cemig no Campo, que faz parte do Programa de Eficiência Energética da companhia, regulado pela Aneel, com o objetivo de levar energia e conhecimento para famílias que vivem em comunidades quilombolas e indígenas em todo o estado.
Durante o lançamento, o jornalista Afonso Borges, idealizador do projeto Sempre Um Papo, vai entrevistar duas pessoas que tiveram participação direta no Cemig no Campo, a educadora Tayná Rodrigues do Rosário, nascida e criada em uma comunidade quilombola do município de São Francisco, no Norte de Minas, e Cássio Adriano Garcia, que atualmente também integra o Comitê de Diversidade da companhia.
Comunidades tradicionais, como os quilombolas, são responsáveis pela preservação de saberes culturais ligados à terra e às tradições desses povos dos quais são remanescentes. Porém, essas famílias dependem dos recursos tecnológicos, como a energia elétrica, para sua sobrevivência, na educação e nas atividades econômicas. Para isso, o projeto Cemig no Campo visitou as comunidades, orientando os moradores quanto ao uso eficiente e seguro da energia elétrica. Além disso, foram substituídas lâmpadas ineficientes por lâmpadas LED e foram realizadas trocas de chuveiros e geladeiras e palestras que abordaram as temáticas de eficiência energética, produção e agricultura familiar e saneamento no ambiente rural.
Segundo o gerente de Eficiência Energética da Cemig, Ronaldo Lucas Queiroz, a inciativa tem o propósito de expandir as ações já realizadas pela companhia, proporcionando sustentabilidade também a grupos sociais que atuam na preservação de uma riqueza cultural histórica. “Levar eficiência energética a comunidades que têm uma ligação forte com o meio ambiente é um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de transmitir tecnologias que contribuem para a qualidade de vida dessas pessoas”, afirma Queiroz.
Nessas comunidades, as equipes tiveram a oportunidade de conhecer de perto e de conversar com seus moradores. O jornalista Bernardino Furtado e o fotógrafo Marcelo Sant’anna registraram os momentos mais significativos desses encontros, para documentação e comprovação das atividades realizadas e, agora, esses registros chegam ao conhecimento público de todos os interessados como um importante documento das comunidades tradicionais de Minas Gerais. O livro “Quilombolas” traz uma grande riqueza de informações sobre a vida desses moradores, que a Cemig decidiu disponibilizar ao público na forma de registros e dados sobre as comunidades atendidas. Com o lançamento, os leitores poderão conhecer, nas páginas do livro, amplamente ilustradas com fotos e testemunhos colhidos, lugares e histórias fascinantes que fazem parte do cotidiano de seus moradores.
Saiba mais sobre a contribuição dos povos africanos na cultura brasileira
A formação histórica e cultural do Brasil é marcada pela contribuição de vários povos. Os africanos, quando chegaram ao país, no período colonial, trouxeram consigo hábitos alimentares, línguas, danças, mitologias, crenças, medicina baseada nas plantas e costumes muito próprios. A África, vale ressaltar, é um vasto continente, e nele coexistem muitas nações e uma grande diversidade étnica. Notadamente, os africanos que foram trazidos ao Brasil são, em sua maioria, bantos, povos que habitavam a África Central nas regiões que hoje compreendem Angola, Congo, Gabão e Cabinda; nagôs ou iorubás, grupo étnico-linguístico da região da África Ocidental; jejes, povo que habita o Togo, Gana e Benim (antigo Daomé); e malês, termo cunhado para designar os negros mulçumanos.
O povo banto nos legou costumes muitos presentes hoje na culinária brasileira. O grupo étnico foi responsável por inserir o quiabo, angu, maxixe, jiló, moqueca de peixe e feijoada na nossa mesa. Na boca do brasileiro, e mais tarde assimilado pela gramática luso-brasileira, foram introduzidas palavras como abano, banda, bunda, bazuca, caçula, capanga, candango, cachimbo, cafundó, caxumba, dendê, fubá, batuque, macumba, miçanga, mocotó, moleque, muamba, muvuca, quitanda, quizila, quitute, samba, umbanda, saravá, camundongo, ginga, tanga, sunga, catinga, entre outras.
Quilombo como espaço de resistência
Uma outra palavra, de origem banto, é quilombo – que significa resistência e denota a influência desse povo no português falado no Brasil. Em Angola, a palavra quer dizer povoação ou fortaleza. No Brasil, durante a escravidão, o termo ganhou ainda mais força. E quilombo passou a ser o local para onde escravizados fugiam da violência e maus-tratos que sofriam dos colonizadores. O Quilombo dos Palmares, que ocupou o território hoje pertencente ao estado de Alagoas, e liderado por Zumbi de Palmares, é considerado a maior comunidade de negros na história do Brasil e o principal ato de bravura contra a dominação portuguesa.
Ainda hoje, existem comunidades quilombolas espalhadas por todo país, que a despeito das tentativas de supressão das culturas de matrizes africanas, vêm lutando para manter viva suas tradições. Esses espaços, físicos e simbólicos, resistem a partir da troca de saberes ancestrais, que vieram de diferentes regiões da África. É quando se voltam para a sua cultura, história e ancestralidade, que os povos negros do Brasil reafirmam sua identidade, valor e consciência.