As igrejas são muitas
O próprio início do Cristianismo foi conturbado, principalmente em seus primeiros séculos de existência. Só no séc. II existiam, ali pela região do Oriente Médio, cerca de 12 linhas diferentes. Havia muitas dúvidas e discordância sobre pontos capitais da religião que surgia. Os Bispos de Alexandria, de Antioquia e de outras cidades que eram as metrópoles da época discordavam entre si sobre as interpretações dos textos sagrados, alguns escritos em aramaico e a maior parte em grego, que era a língua praticamente oficial e culta daquele mundo helenizado.
A situação só foi amenizada já no séc. IV, quando o Imperador Constantino convocou o Concílio de Niceia, que se realizou de 20/05/325 a 25/07/325 e fundamentou a doutrina cristã, estabelendo também alguns dogmas que se tornaram fundamentais para a fé cristã, derrotando inclusive o Arianismo, que negava a divindade de Cristo.
É claro que uma Igreja dirigida por homens sofreria mesmo discordâncias e dissidências, provocando muitas vezes cismas ou separações em seu meio. Em 1517, por exemplo, o monge Martinho Lutero provocaria o maior cisma do Cristianismo, ao fixar as suas famosas 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg. A partir daquele momento, a decisão de Lutero em traduzir a Bíblia para a língua nacional de cada país e pregar a livre interpretação dos textos sagrados, provocou uma variedade enorme de linhas de Igrejas fundamentadas em Cristo. Calvino, Wesley, Melanchton e tantos outros, criaram novas linhas de pensamento cristão que, embora pautadas nos Evangelhos, trilharam caminhos diferentes.
Em finais da década de 1960 surgiu dentro da Igreja Católica a linha chamada “Teologia da Libertação”, com profunda influência dos pensamentos de Marx e de Gramsci. Seu avanço provocou o crescimento das Igrejas Evangélicas em nosso país que tiveram os quadros de fieis engrossados por aqueles que procuravam um maior grau de espiritualidade nos templos.
Há pouco mais de 50 anos surgiu a chamada Renovação Carismática que mesmo com algumas alterações em sua denominação, veio fundamentar uma linha mais espiritualizada e com uma mística acentuada, o “falar em línguas” e a procura de um contato maior com Deus através de preces fervorosas. O Movimento Carismático equilibrou em grande parte o êxodo de fieis católicos que migravam para as linhas evangélicas. O certo é que a Igreja Católica, a despeito de linhas tão divergentes, permaneceu única, ainda que ostentando linhas de uma Igreja Tradicional, do Movimento Carismático e uma linha menor, hoje já quase desfalecida, que é a Teologia da Libertação, com lideranças como o Padre Beto, o Leonardo Boff e o Cláudio Hummes.
Neste mês, tivemos o chamado “Sínodo da Amazónia”, que provocou enormes discussões em Roma, pois para lá se dirigiram tanto os defensores da Teologia da Libertação mas também representantes do Catolicismo Tradicional e até da linha Tradição Família e Propriedade (TFP), havendo inclusive o episódio da imagem de uma índia nua e grávida, que foi jogada no rio Tibre, por ser considerada uma manifestação de paganismo. Os adeptos da TL defendem inclusive a introdução de elementos indígenas no ritual católico, o que desagradou a linha tradicional da Igreja.
O grande erro da linha de esquerda em seu projeto para as nações indígenas da Amazônia é querer uma política de “fossilização” dos indígenas e sua cultura, quando na realidade o que os indígenas querem de fato é participarem da exploração consciente e responsável da Amazônia, desfrutando de suas riquezas, valorizando a sua cultura, mas sem abrir mão dos benefícios que a civilização pode oferecer na área da Medicina, da Agricultura e das conquistas sociais. O índio não deseja e não merece ser relegado a um objeto de museu para ser contemplado “poeticamente” pelo “turista branco”.