A natureza pedindo passagem

Por incrível que pareça, vendo os cenários de destruição de várias cidades brasileiras, a primeira ideia que se tem, é que a natureza elegeu os primeiros meses deste ano para mandar os seus recados através de catástrofes.  Embora não seja possível afirmar que o ser humano seja o único responsável pelas tristes ocorrências, também não dá para absolvê-lo de tudo, por questões várias como negligência, imprudência, imperícia e, principalmente, de leniência, quando o assunto são as grandes demandas em locais de perímetros urbanos.

Claro que o grande volume de chuvas que está acontecendo neste ano no Sudeste brasileiro pode ser considerado uma excepcionalidade, mas isso não ameniza as angústias de quem está vivendo o drama das enchentes, deslizamentos, alagamentos, quedas de árvores e, o que é pior, mortes de pessoas que ocupam as chamadas áreas de risco.  Tudo isso está acontecendo aqui em Minas, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e também em São Paulo. A verdade é que não adianta culpar somente a natureza, como é uma praxe nestas circunstâncias. Em décadas de realização de grandes construções, onde só se vê blocos de cimento e de asfalto, não há escoamento possível para as águas, que gritam não ter para onde irem. A invasão de casas, ruas e avenidas em locais por onde elas deviriam escoar é inexorável. A sua reação é apenas uma questão de tempo. Na esteira dessa percepção, todas as vezes em que houver uma ocorrência de chuvas acima da normalidade, uma parte considerável da população que reside em perímetros urbanos ou em áreas consideradas de risco, continuará a ser vitimada por tragédias desse tipo.

Tomemos por base duas das grandes Metrópoles brasileiras atingidas: Belo Horizonte e São Paulo. Em ambos os casos existem rios e ribeirões que cortam parte das cidades através de galerias construídas debaixo de avenidas que dão acesso a todos os bairros. Quando essas galerias não suportam o volume de água que recebem das encostas, a tendência é o transbordamento, atingindo vias e todas as construções feitas na superfície. Ou seja, é a água pedindo passagem, buscando o seu curso que deveria ser natural

Claro que tem sido um início de ano bastante atípico, com um volume muito intenso de chuvas, que há anos não ocorria dessa forma. Mas em casos emergenciais como esses, pelo menos para salvar vidas, é preciso que os governos tenham planos de contingência que possibilitem a retirada de moradores das áreas de risco, levando-os para abrigos e, sempre que possível, interditando todas as vias sujeitas a alagamentos.

No que se refere às grandes cidades, sabe-se que pelo menos os alertas foram emitidos pelos serviços de meteorologia. Embora os alertas tenham sido emitidos, não é a primeira vez que ocorrem alagamentos e deslizamentos de encostas, tendo como consequências perdas de vidas humanas. Portanto, em parte das tragédias ocorridas na maioria das cidades, houve sem dúvida, leniência dos poderes públicos. É preciso que todos os poderes constituídos, incluindo a União, os estados e os municípios, estejam mais bem preparados para os eventuais fenômenos climáticos, para que não fiquem, após esse tipo de tragédia anunciada, culpando somente a natureza ou as questões climáticas.

Podem estar certos de que, se continuar a chover dessa forma, antes que aconteça a festa do carnaval todos os anos, a natureza irá cobrar a sua conta e as águas continuarão pedindo passagem.

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