A belicosidade humana

Quando o líder iraniano Qassein Soleimani foi morto no Iraque por forças dos EUA, parecia que o episódio iria gerar um conflito generalizado entre EUA e Irã, estendendo-se a outras nações que possuem tropas e interesses no Oriente Médio. O general Soleimani, além de chefe militar de enorme importância no país persa, era incontestavelmente o mentor de organizações terroristas que espalham o medo em várias partes do mundo. O terrorismo é uma forma de violência que se tornou comum no mundo atual, um meio de expressar o descontentamento de seguidores de uma determinada ideologia que, impossibilitados de medirem forças nos campos de batalha, como no passado, empregam o medo e o terror como forma de convencimento. Mas a violência não é privilégio apenas dos terroristas. Parece ser um componente da própria essência do ser humano.

A convivência pacífica entre os homens é fruto exclusivamente da educação, pois se o homem fosse deixado à mercê da sua própria natureza seria certamente muito mais violento do que é.

A resposta do Irã, bombardeando uma base militar americana no Iraque chegou a ser hilária. Os iranianos tiveram a preocupação de atingir apenas parte das instalações mas procurando não matar nenhum soldado americano, talvez por receio de acelerar o processo de animosidade que poderia acabar levando a uma guerra militar contra a poderosa potência do norte.

Mas logo após o incidente no Iraque, escutei um entrevistado na TV, que se dizia “sociólogo de uma importante Universidade nacional”, afirmando que os americanos agora iriam se dar mal no Oriente Médio porque os muçulmanos, que hoje já somam mais de 600 milhões de pessoas, são “altamente politizados” e não se deixariam mais dominar pelas potências ocidentais. Na realidade grande parte desse contingente humano não é propriamente politizado, mas (pelo menos em um grande número) alienado por uma crença que os fazem cobrir o corpo com explosivos e transformarem-se em “homens bombas” para desassossego dos grandes centros urbanos.

Mas o germe da violência ou da intolerância está nas próprias pessoas e não estou falando de grandes atos de violência, mas daquelas ações de cada um de nós ao volante de um veículo em um trânsito conturbado, no modo áspero de tratar o semelhante no dia-a-dia da nossa convivência, nas relações familiares, na impaciência que temos em escutar o outro e respeitar a sua opinião, nas mínimas ações que podem azedar uma relação. As nossas reações costumam ser as mais imprevisíveis. No início de janeiro, por exemplo tivemos a cena do Papa Francisco que se impacientou com uma fiel que tentava segurar-lhe o braço. Justificam a sua impaciência e reação por estar no alto dos seus oitenta e quatro anos de vida. Mas justamente por ser um líder espiritual o cargo deveria revesti-lo de um cuidado maior com suas reações humanas. Não foi à toa que Lucas afirmou em 12: 48 : “A quem muito foi dado muito será exigido”. Eu fico imaginando se o Presidente Bolsonaro, costumeiro em atitudes intempestivas tivesse feito isso com uma eleitora. Mas é claro que as pessoas são diferentes, o Cardeal ítalo-argentino Bergoglio é muito diferente do Cardeal polonês Karol Wojtyla que, sofrendo um atentado a bala, com dois tiros de 9mm desferidos pelo terrorista turco Mehmet Ali Agca em 1981, além de perdoá-lo, ainda conseguiu a comutação da prisão perpétua do seu agressor que, após 19 anos, foi solto e deportado para a Turquia. Um ano depois, João Paulo II foi novamente vítima de um atentado à faca, desferido pelo padre espanhol Juan Maria Krohn, quando em visita à Cova da Iría, em Portugal. Mas sobreviveu aos dois ataques.

O remédio contra a violência que aterroriza principalmente os grandes centros urbanos está mesmo mais na educação familiar do que na repressão por exércitos ou forças policiais.

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