Pagando o preço
A crise moral que se abateu sobre o país nos últimos anos, estimulada pela confiança dos mandatários na impunidade ainda está longe de ter um fim. Pelo menos esta é a impressão que se tem, quando se olha o cenário político do país.
Enquanto cada brasileiro tenta dar a volta por cima, buscando no seu trabalho digno a tábua de salvação para digerir no estômago e na alma as suas angústias e incertezas, o país, a cada dia que passa, é surpreendido por fatos novos, atestando que a crise ética continua embutida no sistema e que a classe política, com o seu corporativismo maléfico ainda não entendeu que há um enorme fosso entre as suas atitudes anti-republicanas e os anseios da sociedade.
Levado ao precipício pelos últimos governos que permitiram a roubalheira escancarada na maior empresa estatal brasileira e nos principais fundos de pensão, o país vai seguindo o seu calvário. Embora se vislumbre atualmente uma luz no fim do túnel na economia, com alguma recuperação do PIB e uma parca redução do desemprego, a crise moral e ética ainda persiste arraigada nos Poderes da República. Não é à toa que o projeto anticrime, parte apresentado pelo ministro Sérgio Moro e parte apresentado por uma comissão de juristas, embora tenha conseguido alguns avanços, foi bastante desfigurado no Congresso, obrigando o presidente a sancionar a nova Lei com 25 vetos. Não é à toa que conseguiram criar um monstrengo jurídico chamado de juiz das garantias, que além de burocratizar ainda mais a nossa lerda Justiça, não souberam definir como o novo instituto será aplicado na prática. Não é à toa que os ministros do STF, Dias Tófoli e Luiz Fux estão dando cabeçadas – um cassando a liminar do outro – para tentar colocar em prática o tal monstrengo, oriundo do Legislativo. Não é à toa que o Supremo, mesmo por uma maioria mínima – 6 votos contra 5 -, entrou na vala e mudou o seu próprio entendimento sobre a presunção de inocência e permitiu que condenados em 2ª Instância continuem a responder seus processos em liberdade, podendo utilizar-se dos infindáveis recursos procrastinatórios, o que beneficia em massa os criminosos de colarinho branco e, principalmente, os criminosos que poderão continuar a assaltar o Erário, sem que sejam exemplarmente punidos.
“Nunca antes na História deste país” se viu um trabalho tão bem feito contra a corrupção como a Operação Lava-Jato. À frente das investigações, a Polícia Federal, o Ministério Público e alguns integrantes do Supremo, como Teori Zawascki – morto em acidente aéreo – e Edson Fachin, que ajudaram a segurar a barra nos casos investigados, levando à prisão figurões da nossa política.
Com a lei que responsabiliza juízes, membros do Ministério Público e órgãos de investigação, os parlamentares conseguiram colocar o freio na Lava-Jato. Ou alguém tem dúvidas disso? Foi uma forma legal que encontraram para esvaziar a Operação que continuava a ameaçar políticos no poder.
A crise moral ainda se vê pela falta de percepção da classe política quanto à mudança de comportamento da sociedade e mostra que apesar de todas as pressões populares, os maus políticos ainda não se conscientizaram das suas responsabilidades e continuam com as suas práticas imorais e antiéticas, tentando dar um nó no povo.
Ainda bem que a sociedade está mais atenta e vem comandando através das redes sociais os ditames da obrigatoriedade de uma mudança de consciência dos políticos para um andar de cima, ou seja, em busca da moralidade pública.
Não há mais lugar para os interesses corporativos. O povo, como senhor do poder, como bem disse a ministra do STF, Cármen Lúcia, está mudando de comportamento e apóia de forma incontestável a devastação da corrupção. E por isso também, que não é à toa que, apesar das investidas do presidente, Sergio Moro é o ministro mais bem avaliado do atual governo.
Políticos que não se alinharem com os anseios do povo, precisam pagar o preço das suas irresponsabilidades.