Fórum discute a cultura afro nas escolas
A cultura afro nas escolas foi amplamente discutida durante um fórum em Muriaé. Realizado pela Superintendência Regional de Ensino em parceria com o Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação de Minas Gerais (Sind-UTE), Subsede Muriaé e Centro Universitário Unifaminas, na sexta-feira (18), o evento contou com palestra com profissionais renomados, apresentações artísticas e culturais e relato de experiências vividas nas escolas da cidade e região.
“Nós, como educadores, temos que trabalhar essa temática nas escolas, para combater o preconceito, defender a igualdade racial e, consequentemente, formar os nossos alunos no sentido de trabalhar corretamente a cultura afro-brasileira e a importância do negro na formação da nossa cultura, na construção de nossa história”, afirma o superintendente Regional de Ensino, Sandro Carrizo, agradecendo as parcerias do Unifaminas, do Sind-UTE, Subsede Muriaé, a equipe da Superintendência Regional de Ensino, diretores e professores na realização e participação no evento.
A diretora estadual do SIND-UTE e integrante da diretoria do sindicato em Muriaé, Sandra Lúcia Couto Bittencourt, conta que o sindicato, por ser uma instituição cidadã, apoia e participa de eventos que promovam a discussão de problemas que afetam as pessoas e que também realiza trabalhos sobre africanidade. “Participamos de um encontro em outubro, em Belo Horizonte, onde trabalhou-se somente sobre africanidade e a Lei 10.639, para que as escolas possam fazer esse trabalho o ano todo, não só em épocas comemorativas, a fim de que a africanidade possa mostrar o que construiu nesse país. Precisamos de um país em que todos se respeitem. O Brasil foi feito para todos. Então, não tem por que haver discriminação de espécie alguma”, afirma. A Lei 10.639, de 2003, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” nas escolas do Brasil.
O coordenador do Sind-UTE, Wesley de Souza Rodrigues, enfatiza a importância de se trabalhar esse tema nas escolas. “Quando pensamos na realidade brasileira, em que há, sim, racismo e discriminação racial, é de suma importância trabalhar essa temática nas escolas com os educadores, pois é uma forma de conectar a escola à realidade e levar essa realidade para a sala de aula. Essa realidade, durante muitos anos, foi negada pelos intelectuais brasileiros, e de uns anos para cá, através, até mesmo, do trabalho dos negros, essa realidade foi tomada e transferida para a escola, que tem, sim, a obrigação de trabalha-la”, comenta.
A servidora da Superintendência Regional de Ensino de Muriaé no setor pedagógico, Dinorá Braga Limonge, também ressalta a importância de se refletir sobre tal temática nas escolas e se posicionar sobre a omissão e o preconceito que acontece nas salas de aula.
Cerca de 200 pessoas estiveram presentes no fórum, como especialistas e profissionais de escolas municipais, estaduais e privadas e pessoas que militam na área.
Um dos palestrantes foi o advogado, professor em Direito do Estado e Direito Constitucional pela PUC/RJ e UFMG, consultor jurídico, procurador da Assembleia do Estado do Espírito Santo e assessor jurídico da Presidência, Dr. José Arimathéa Campos Gomes. Ele afirma que a finalidade de debates como esse é capacitar o professor, considerado por ele como “grande intelectual” e “aquele que tem um grande poder de formação da juventude e das crianças”, para que ele possa ser preparado para um novo tempo, quando a hierarquia pela cor não será um diferencial na sociedade, mas a competência e o conhecimento.
“Se queremos ser uma nação realmente unificada e não dividida por critérios raciais, temos que ter intervenções efetivas no plano escolar, para que esse cenário se transforme. Nesse sentido, as intervenções pedagógicas preventivas são muito mais importantes do que as repressivas. Ninguém consegue ter uma intervenção pedagógica para enfrentar o conflito racial se não tiver os olhos e a percepção do que acontece no Brasil”, enfatiza.
Outra palestra do fórum foi ministrada pela professora do CEFET-MG e coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Estudos Brasileiros e do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-Racial, Silvani Valentim, que falou sobre “FPEDERMG e a educação das Relações Étnico-Raciais: Afro-brasileiros (as) e Africanidades”.
Silvani faz parte de um grupo de professoras voluntárias que percorrem Minas Gerais divulgando, trabalhando, avaliando e afirmando a importância de se relatar experiências positivas e de aprofundar temáticas que levem a entender, cada vez mais, a importância da Lei 10.639. “Nesse sentido, o trabalho desse fórum atua predominantemente na dimensão dessa implementação, que envolve formar professores, organizar materiais, ajudar as escolas e a Secretaria de Educação se perceberem como gestoras, facilitadores da implementação da lei”, diz.
Já a professora da rede estadual de Minas em Belo Horizonte, Aparecida Nonato Nunes, relatou aos presentes práticas educacionais voltadas para estudos étnicos-raciais que realiza desde 2010. Aparecida também é gestora cultural arte educadora, artista plástica em africanidade, divulgadora de práticas educacionais que contribuam com os professores da rede estadual de educação e militante negra e de gênero. “Quando os educadores desenvolvem essas práticas desde fevereiro, início do ano letivo, a culminância do trabalho fica mais eficaz. Eu gostaria que os educadores presentes no evento não levassem para casa somente as práticas, mas um desejo de contribuir para combater a não consciência, pois a consciência é uma identidade”, comenta.
Também foram ministradas as palestras “Redes de sociabilidades: traços de uma história não comentada” e “Exposição dialogada – currículo, práticas pedagógicas, afro-brasileiros e africanidades: O que fazer? Como fazer? Recursos didático-pedagógicos”, proferidas, respectivamente, pela mestre em História e doutora em Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade e Ph.D. em História, professora Vitória Schettini e pela coordenadora do Núcleo de Relações Étnico-Raciais da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte (SMED/BH), Mara Evaristo.
Além das palestras, foram compartilhadas experiências de sucesso realizadas em escolas da região, como na Escola Estadual Maria Augusta Silva Araújo, situada no bairro Santa Terezinha, e na Escola Estadual Professor Tomás Aquino Pereira, localizada em Barão do Monte Alto. Houve também apresentações artísticas e culturais.
O diretor desta última escola, Geraldo André Ribeiro Matola, conta que a cultura afro é discutida e trabalhada durante todo o ano letivo, através da realização de projetos e em sala de aula. A culminância acontece no Dia da Consciência Negra (20 de novembro) com apresentações. “Barão do Monte Alto, por ser uma cidade pequena, tem muitas raízes negras, como o ‘Mineiro Pau’, uma dança passada de pai para filho. Temos também outros tipos de dança e de histórias contadas pelos antepassados, as quais aproveitamos para trabalhar na escola, além de discussão de questões polêmicas”, relata.